INTRODUÇÃO

O Brasil tem apresentado um déficit histórico em torno de 8 milhões de moradias. Com o intuito de reverter esta situação, o Governo Federal criou o Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, pela Lei 11.977/09, para atender a demanda por moradias na faixa de renda de 0 a 10 salários mínimos (US$2700), subdividida em três subcategorias: 0 a 3 salários mínimos (US$825), 3 a 6 salários (US$1653) e 6 a 10 salários, inicialmente com a meta de construir 1 milhão de moradias. Em 2014, o programa encontra-se na sua 2º fase, tendo como meta: construir 2 milhões de moradias, totalizando 3 milhões de residências.

O PMCMV, no entanto, apresenta diversos problemas, como a falta do mínimo padrão de qualidade, uma vez que o preço final das unidades já é pré-estabelecido e a margem de lucro das empreiteiras é baixíssimo. Além disso, no edital fornecido pela Caixa Econômica Federal, não são especificadas questões de desempenho nas edificações, o que dificulta a melhoria dos projetos de arquitetura do MCMV. Com o intuito de melhorar a qualidade dos empreendimentos residenciais, em especial os de caráter social, diversos órgãos lançaram manuais e normas de padrões de qualidade a serem seguidos pelas empresas interessadas na construção (ABYKO E FRANÇA, 2013, GOVERNO FEDERAL).

Neste sentido, em 2005, o governo federal juntamente com o Ministério das Cidades criou a norma SiAC (Sistema de Avaliação de Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil), que tem como objetivo melhorar a eficácia dos sistemas de Gestão de Qualidade nas empresas do setor da construção civil, classificando suas atividades de A a D (sendo A a nota mais alta e D a mais baixa). A partir deste sistema criou-se o PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat), que procura aperfeiçoar o setor através da busca de soluções de maior qualidade e menor custo, a fim de reduzir o déficit habitacional no Brasil. O uso desta normatização se tornou pré-requisito para qualquer construtora participar do programa MCMV.

ABNT NBR 15.575 – Edificações habitacionais – desempenho

Da mesma forma, afim de promover a maior satisfação dos usuários de edifícios residenciais, a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT criou a NBR 15.575 – Edificações habitacionais – Desempenho, que entrou em vigor em Julho de 2013 para oferecer aos usuários a garantia de qualidade das edificações residenciais a partir da definição de requisitos mínimos a serem atendidos pelas unidades habitacionais e respectivas áreas comuns permitindo avaliar os componentes e os sistemas que compõem o edifício, sem entrar no mérito dos materiais ou sistemas construtivos utilizados (ABNT, 2013).

A norma procura estabelecer critérios de avaliação das edificações a partir de seu do desempenho térmico, acústico, lumínico e de resistência ao fogo, e que devem ser atendidos isoladamente, considerando situações antagônicas no momento das medições, por exemplo, desempenho acústico (janela fechada) versus desempenho de ventilação (janela aberta) (ABNT, 2013).

Apesar de prever análises digitais para o desempenho dos materiais das edificações e sugerir a utilização do software Energy Plus ou similares, a NBR 15.575 não especifica como desenvolver qualquer tipo de modelo para ser analisado. A norma fornece quais são os parâmetros necessários (condutividade térmica, calor específico, densidade, emissividade, absortância e transmitância térmica), porém não tem nenhuma biblioteca consistente e confiável que possa ser consultada para determinar estes valores para materiais como bloco de concreto, cerâmica, argamassa e etc, e além disso, os próprios fornecedores não possuem tais dados.

BIM – Modelagem da Informação da Construção

Modelos desenvolvidos em BIM possuem características específicas que os distinguem de uma produção em 3D num software CAD. BIM produz modelos tridimensionais, onde a planta, o corte e a elevação são partes do mesmo todo, assim como tabelas de quantitativos e visualizações 3D. Em outras palavras, são diversas formas de visualizar a mesma informação. Além da questão da visualização, os modelos são compostos por componentes que possuem características como: representação gráfica e atributos que os identificam juntamente com suas informações parametrizadas, de maneira que possam ser manipulados de modo inteligente; informações sobre o desempenho, necessários para análises e processos de trabalho e por fim todas essas informações devem ser consistentes e não redundantes sobre cada parte destes tais componentes (EASTMAN ET AL, 2011).

Em 2011, o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MIDIC), forneceu uma biblioteca gratuita de famílias de componentes para o desenvolvimento de modelos tridimensionais em ambiente BIM, porém sua situação atual não conta com parâmetros físicos e térmicos dos materiais que compõem os elementos construtivos. Tais informações caracterizam o comportamento dos materiais em questão, essencial para análises de desempenho térmico.

A partir dessa lacuna, identificamos a oportunidade desta pesquisa, que tem como objetivo principal desenvolver um relatório de desempenho térmico fornecido pelo software de análise e então comparar os resultados com os esperados pela NBR 15.575.

METODOLOGIA

A partir da análise bibliográfica acerca de temas como, BIM, desempenho de edificações, conforto térmico, normatização de desempenho de edificações (ABNT NBR15 575) e análises de desempenho utilizando software, foi iniciado o estudo do desenvolvimento de um modelo no software Autodesk Revit® utilizando a biblioteca fornecida pelo MDIC.

Para desenvolver um modelo com o intuito de ser realizada uma análise térmica, estão sendo inseridas informações relativas a cada material de cada componente. Diversas dificuldades surgem durante esse processo prático, como a especificação do funcionamento da abertura da janela, já que o software entende apenas a quantidade de cada material (por exemplo, metal e vidro) do componente em questão.

O projeto a ser analisado localiza-se em Várzea Paulista, São Paulo. Para tanto o projeto executivo juntamente com o memorial descritivo foram cedidos pelo escritório autor do projeto. Foram recebidos arquivos de plantas, cortes e elevações em DWG e estão sendo usados como base para a modelagem em BIM.

Ainda não foi definido o software de análise, pois será comparado o resultado fornecido de vários softwares como Autodesk Green Building Studio®, Autodesk Ecotect®, OpenStudio® e Design Builder® e verificar-se-á qual fornece os relatórios mais compreensíveis e consistentes, para que seja possível fazer uma comparação com os resultados esperados pela NBR 15.575.

RESULTADOS

A pesquisa está em andamento. Até o momento, foi constatada a grande dificuldade de se estabelecer uma metodologia de modelagem de componentes em BIM, além da falta de parâmetros de funcionamento mecânico de componentes como portas e janelas, o que enviesa o resultado da análise térmica final. Além disso, estamos utilizando as características de cada material fornecidas pelo próprio software Autodesk Revit® pois não estão disponíveis tais dados.

O objetivo principal desta pesquisa é desenvolver um relatório de desempenho térmico fornecido pelo software de análise e então comparar os resultados com os esperados pela NBR 15.575. O objetivo secundário é estudar a metodologia de desenvolvimento de modelos para o estudo de desempenho, as barreiras e facilidades, as necessidades e processos desse procedimento de análise.

DISCUSSÃO

Pesquisas acadêmicas trazem ”guias e publicações que sugerem diretrizes, para compreensão e implementação de BIM, entretanto, a mesma traz poucos relatos de casos empíricos, que assegurem tais diretrizes, bem como relatem as barreiras e desafios, que as empresas estão encontrando, na adoção de BIM” (CHAVES ET AL, 2014). Ainda, os escritórios enfrentam diversas dificuldades em implementar sistemas BIM, como a falta de mão de obra especializada, alto custo de investimento com máquinas e softwares e falta de capacitação dos profissionais (AMORIM ET AL, 2009). Tento em vista a potencialidade do BIM para a aplicação da NBR 15.575, se faz necessário o estudo de metodologias eficazes e suas barreiras de utilização para o desenvolvimento de modelos de análise térmica em BIM.