XIX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, 

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O Design Thinking como ferramenta colaborativa para o desenvolvimento de cidades mais humanas e inteligentes em prol do bem comum
Vanessa Eleutheriou, Tatiana Schreiner, Luciane Fadel, Francisco Fialho

Last modified: 2015-08-27

Abstract


INTRODUÇÃO

O artigo pretende estudar como Design Thinking - como processo - pode contribuir para o desenvolvimento e o funcionamento de (Human) Smart Cities (cidades humanas inteligentes).

Smart cities são um movimento mundial entendido hoje como o conjunto de uma ou mais comunidades locais que podem ser definidas como bairros ou regiões de uma localidade. Elas promovem o desenvolvimento econômico com justiça social e sustentabilidade ambiental; adotam e desenvolvem tecnologias apropriadas para sua realidade local e usam processos de governança que ajudam a construir uma comunidade alinhada com a cultura, os valores e o estilo de vida que seus residentes desejam manter ou abraçar. Ao buscar um crescimento global, sustentável e produtivo, estimulam a competitividade saudável e instalam um ecossistema de inovação e cooperações. Esta definição está de acordo com os entendimentos de Giffinger e Caragliu:

“Uma cidade que apresenta bom desempenho, de uma forma prospectiva, em seis dimensões (economia, pessoas, governança, mobilidade, meio ambiente e vida) construídas sob uma combinação inteligente de cidadãos engajados e independentes” (GIFFINGER et al, 2007)

“Uma cidade é inteligente quando os investimentos em seu capital humano, social e tradicional (transporte) e em modernas infraestruturas de comunicação (TICs) alimentam um crescimento econômico sustentável e uma elevada qualidade de vida, com um prudente gerenciamento dos recursos naturais, através de uma governança participativa” (CARAGLIU, 2009).

De acordo com Castells (1999), as instituições políticas baseadas na ideia de Estado-nação são incapazes de lidar com as questões do mundo moderno; há uma dificuldade em lidar com problemas locais, mas principalmente quando a maioria deles ultrapassa as fronteiras do Estado, tornando­se problemas globais. Considerando-se isso, e também como um retorno às cidades-Estado gregas que deram início às nações como são conhecidas hoje, tem-se que uma maneira de tornar viável lidar com os desafios transnacionais e globalizados seria portanto reduzir o nível de análise para o contexto das cidades.

No entanto, a grande questão quando se fala em smart cities é como fazê-las funcionar, ou seja, como mobilizar as pessoas em torno de objetivos comuns para colocar as smart cities em prática; e, principalmente, como lidar com os commons. Os commons são definidos como bens comuns, dos quais a coletividade (grupo) inteira se beneficia e pode utilizar, mesmo aqueles que não pagam por ele. São commons recursos naturais ou culturais acessíveis a todos os membros de uma sociedade, e também recursos digitais e intelectuais (conhecimento) (OSTROM; HESS, 2007).

O cenário pessimista, quando se fala em cooperação para o uso de commons, é exemplificado pela Tragédia dos Comuns – onde Garret Hardin declara que por todos os indivíduos do grupo serem racionais, todos querem maximizar sua utilidade e minimizar seu custo, e agindo desta maneira, geram um impacto que destrói o bem comum de todos, e assim a sustentabilidade não é atingida. Os aspectos de uma sociedade inteligente como um todo, principalmente no que tange a questão da sustentabilidade, estão fundamentados na existência desse elemento cooperativo e colaborativo e na participação ativa de seus membros; portanto a necessidade de entender como a cooperação ocorreria no cenário de uma cidade inteligente.

Os objetivos do presente artigo, portanto, são:

- Entender o problema dos commons;

- Observar como o problema dos commons traz dificuldades para o processo de transição das cidades em smart cities, essencialmente no tópico da sustentabilidade;

- Trazer o Design Thinking como processo aplicável a uma possível resolução dessa questão.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O nível de análise utilizado é a sociedade, como grupo que convive, coopera, e por conseguinte compartilha informações e conhecimentos (DAVENPORT & PRUSAK, 1998).

Inicialmente, o artigo trará uma breve introdução ao movimento das smart cities, abordando como o tema começou a ser debatido mundialmente, suas várias definições e críticas e os principais conceitos relacionados a ele; incluindo a visão mais conhecida (europeia, baseada em seis eixos – economia inteligente, mobilidade inteligente, governança inteligente, meio ambiente inteligente, vida inteligente e pessoas inteligentes) e a visão mais humana, menos high-tech que começa a tomar espaço no debate, por exemplo nos movimentos Transition Towns. Nas cidades inteligentes humanas as pessoas não seriam apenas um acessório da tecnologia, mas o contrário. Todos os outros eixos dependeriam acima de tudo da existência de pessoas engajadas nos processos de inovação da vida pública em geral, visto que são consumidoras e co-produtoras de conteúdo e serviços. Sua infraestrutura não funciona se não houver usuários, e o planejamento urbano é feito com o envolvimento dos cidadãos; mas vai além disso: tudo é baseado no princípio da ergonomia.

As principais referências teóricas utilizadas nesse estudo incluem trabalhos sobre as características da sociedade do conhecimento (proposta inicialmente por Peter Drucker e por Daniel Bell) e das cidades humanas inteligentes para embasamento temático.

Os autores então observam a dificuldade em lidar com os commons, ou seja, os bens comuns necessariamente compartilhados para o relacionamento frutífero entre os indivíduos de uma comunidade; e como isso atrasa ou impede o desenvolvimento e o funcionamento das cidades inteligentes.

Em seguida, o artigo utilizará os oito princípios para o gerenciamento dos commons de Elinor Ostrom, que entendia a relevância do fator humano para a solução da questão dos commons; perpassando por estudos de cooperação baseados na Teoria dos Jogos, em modelagens computacionais (ex. Jogo da Vida de John Conway e o modelo de influência social de Robert Axelrod) e sobre liderança, para enfatizar a possibilidade de surgimento de sociedades cooperativas mesmo que não haja uma única consciência ou racionalidade, mas como um processo de liderança emergente que oriente a consolidação de uma cidade inteligente.

Com o intuito de trazer uma possibilidade de solução para a questão dos commons nas smart cities, o artigo fará uma comparação dos mindsets do Design Thinking (princípios destacados pela Universidade de Stanford e desenhados para facilitar empatia, pensamento divergente, colaboração e o “botar a mão na massa”, pensando durante o processo) com os princípios de gerenciamento dos commons de Ostrom. Dessa forma, tentará compreender o Design Thinking como ferramenta dentro de um processo de liderança alicerçado nos princípios de Ostrom, a ser aplicado ao desenvolvimento de cidades inteligentes.

RESULTADO ESPERADO

Os autores almejam apresentar como o Design Thinking pode ser utilizado não somente como ferramenta, mas como processo de reformulação da maneira de pensar, de forma a planejar a cidade voltada ao usuário; assim, facilitando o desenvolvimento de uma cidade inteligente desejada por seus moradores e frequentadores, onde a qualidade de vida é garantida. O artigo pretende ser uma introdução a essa discussão, buscando gerar futuramente produções sobre outras formas de aplicação do Design Thinking e da importância da boa gestão dos commons para as smart cities.

DISCUSSÃO

Como contribuição principal, o artigo pretende trazer o Design Thinking de forma diferenciada para o debate sobre smart cities, na observação das diferentes fases do modo de pensar do designer e o que elas trazem de semelhante aos princípios de gerenciamento dos commons definidos por Elinor Ostrom. É mais comum encontrar o Design Thinking sendo utilizado como ferramenta na observação dos problemas da cidade e no entendimento dos sentimentos e preocupações dos indivíduos que se relacionam com ela (moram, frequentam, visitam); aqui, pretende-se estimular a discussão do uso do Design Thinking como processo de liderança.

Visto que o tratamento dado às smart cities é essencialmente inter-multi-disciplinar, segue sendo de interesse de várias áreas do conhecimento – não somente as tecnológicas, mas também de planejamento urbano, sustentabilidade e gestão do conhecimento, considerando que o conhecimento é também considerado um bem comum compartilhado.


Keywords


design thinking; smart cities; commons; cooperação

References


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