Last modified: 2015-08-27
Abstract
Atualmente o processo de projeto arquitetônico vem sofrendo diversas transformações advindas da utilização de ferramentas aliadas à tecnologia. Contudo, a atualização da grade curricular nos cursos de arquitetura ainda não parece acompanhar a velocidade destas evoluções. “Há exigência, e este é um dos maiores desafios, de maior integração, colaboração e interdisciplinaridade por parte dos professores.” (DELATORRE, 2014, p.11)
ANDRADE e RUSCHEL (2009) entendem que a ideia que sustenta o uso do Building Information Modeling (BIM), na indústria da Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC), se apóia nos conceitos de parametrização, interoperabilidade e na colaboração entre os diversos profissionais deste setor.
A grande quantidade de informações necessárias para a execução de um projeto trouxe à tona a necessidade de atualização do processo de projeto em relação à transmissão de informações. Não se trata apenas da representação de geometrias em 2 ou 3D, mas de um processo construtivo onde a informação está interligada com o modelo através de parâmetros.
A utilização de modelos virtuais para o desenvolvimento de projetos na Arquitetura é cada vez mais presente. Mesmo que toda a mudança de paradigma passe por um processo intenso e demorado de aprovação, a modelagem paramétrica tridimensional é uma tendência que já se transformou em realidade para algumas IEs (Instituições de Ensino).
SEDREZ e MENEGHEL (2013) afirmam que o detalhe em arquitetura se torna uma atividade presente em todas as etapas do processo de projeto quando se usam processos generativos e paramétricos. Os autores acreditam que o ambiente computacional torna ágil a análise do edifício e ao mesmo tempo fornece parâmetros para o ajuste da proposta.
Analisando as considerações, entende-se que o detalhe hoje cumpre mais do que uma simples função estética, ele abrange uma significação crescente de conceitos, materiais, elementos construtivos e componentes funcionais. A partir do momento em que o detalhe passa a cumprir papel fundamental para a construtibilidade do projeto, sua legibilidade e clareza nas informações tornam-se ferramentas essenciais tanto para processo projetual quanto para a materialização das ideias.
O principal objetivo desta experiência é investigar e verificar o potencial de interoperabilidade entre diferentes softwares de arquitetura e as possibilidades de materialização e reutilização dos modelos desenvolvidos através do processo de detalhamento de projeto, considerando que o próprio detalhamento reaparece na Arquitetura através deste novo cenário de desenvolvimento e criação de projetos. Pretende-se avaliar as dificuldades de acesso, compartilhamento e edição de dados e informações. A partir dos resultados obtidos deverão ser identificadas as funcionalidades e limitações vinculadas aos modelos e seus formatos.
DETALHAMENTO DE PROJETO
Segundo ARCARI (2013) apesar da importância da representação do detalhamento, o ensino acadêmico muitas vezes não atinge o nível de explanação necessária para que o projeto complete sua trajetória e então se torne um objeto concebido.
A arquitetura contemporânea junto da tecnologia digital vem modificando significativamente a maneira de projetar. Os novos processos de projeto através de parametrização e fabricação digital potencializaram a produção arquitetônica, modificando a maneira de criar, construir e até mesmo de compartilhar as informações de projeto.
É através deste cenário que o detalhamento do projeto em Arquitetura volta a atuar com nova roupagem, sendo um dos principais personagens nos processos de projeto que fazem uso das atuais tecnologias através da parametrização e compartilhamento de dados.
Um dos principais objetivos da utilização de softwares e ferramentas digitais no desenvolvimento de projetos é a viabilização tanto do projeto quanto da fabricação e construção. O nível de controle e conhecimento sobre o projeto visando a fabricação digital apresenta-se tão alto, que o entendimento do modelo projetado só parece ser possível através do conhecimento e detalhamento minucioso de suas partes integrantes.
MODELAGEM PARAMÉTRICA
Ao longo dos anos os métodos propostos para o desenvolvimento de projetos vêm se adequando e progredindo junto da tecnologia de informação, que hoje é atuante em diversos processos criativos e produtivos. De acordo com Pupo e Celani (2009) os arquitetos utilizam softwares para criar formas complexas que contêm informações projetuais e ainda utilizam essas informações para fabricar maquetes físicas ou diretamente na fabricação de elementos construtivos. “O potencial que estas novas tecnologias trazem à produção e ao gerenciamento de projetos tem revolucionado a forma como se produz, avalia, fabrica e constrói arquitetura.” (PUPO;CELANI, 2009)
Para Barrios(2004) apud Kowaltowski et. al (2011), o modelo paramétrico é uma representação computacional de um objeto construído com entidades, geralmente geométricas, que têm atributos fixos e outros que podem ser variáveis. Estabelecer condições para rever, analisar e modificar parâmetros e decisões amplia as possibilidades em relação a criação e otimização do processo de projeto.
A aproximação entre o projetista e o produto final potencializa o processo de projeto não apenas pela quantidade de informações fornecidas pelo modelo paramétrico, mas pelo diálogo continuo entre o projeto, as ferramentas de criação e a materialização, criando um ciclo de releitura do objeto construído digitalmente até que estejam prontas as soluções de projeto.
INTEROPERABILIDADE e IFC
O conceito de interoperabilidade apresentam-se hoje como uma das melhores soluções para comunicação entre projetos de arquitetura e ao mesmo tempo uma das maiores dificuldades enfrentadas na prática.
Pode-se considerar que as aplicações de recursos de interoperabilidade entre projetos de arquitetura tiveram maior notoriedade a partir do uso de aplicativos BIM. Segundo ANDRADE e RUSCHEL (2009) o conceito do Building Information Modeling (BIM) pressupõe a interoperabilidade e a colaboração entre os profissionais da indústria da Arquitetura Engenharia e Construção (AEC).
A necessidade de um protocolo interoperável para troca de dados fez com que fosse criado o formato IFC (Industry Foundation Classes) com o intúito de possibilitar e potencializar a troca de informações dos modelos entre diferentes softwares. Hoje este formato é considerado o melhor instrumento de troca de dados entre softwares da insdústria da Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC), justificando a escolha do .IFC como principal formato para a realização das atividades desta experiência. Este artigo deverá apresentar os resultados das atividades de troca de dados entre softwares assim como gerar questionamentos sobre o uso do formato .IFC na prática.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Buscando compreender o novo papel do detalhamento junto às atuais tecnologias digitais aplicadas ao processo de projeto, o presente artigo fez uso do material produzido no detalhamento de um projeto de adequação de acessibilidade para desenvolver as atividades propostas. A abordagem utilizada divide-se em dois processos: inicialmente os alunos desenvolveram a modelagem tridimensional parametrizada de detalhes de um projeto de adequação de acessibilidade e posteriormente estes modelos foram utilizados para testar a interoperabilidade entre softwares. Os softwares utilizados para esta experiência foram: Autocad (Autodesk) , Sketchup (Trimble) – softwares CAD com plugins paramétricos; e Revit Architecture (Autodesk) – software com tecnologia BIM.
Entende-se que os softwares citados acima possuem diferentes abordagens no que se refere ao funcionamento do seu sistema, porém um dos principais objetivos desta experiência é entender e testar a transmissão de informação entre eles através do formato IFC e outros formatos. Finalizados os testes entre softwares, os modelos foram preparados para sua inserção no processo de materialização, que deverá acontecer através de corte a laser. Entende-se portanto, que o ideário do artigo se desenvolverá a partir da adoção de um fluxo de trabalho que deverá passar por diferentes etapas dentro de um processo de projeto de arquitetura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao realizar as atividades de modelagem, perceberam-se as diferenças entre a criação de um modelo em um software BIM e em um software CAD com plugins paramétricos. A partir da análise de conceitos acerca do tema parametrização, iniciaram-se questionamentos acerca do tema e a partir de quando pode-se caracterizar a modelagem como paramétrica ou modelagem geométrica parametrizada.
Os resultados obtidos a partir dos testes de interoperabilidade originaram outros questionamentos acerca do próprio significado a que é designado o termo interoperabilidade. Considerando que interoperável deve ser o modelo bi ou tridimensional que tem a capacidade de estabelecer comunicação e ser operado em diferentes softwares, entende-se que o termo adotado pode não ser o mais adequado a partir dos obstáculos apresentados nos testes. Entende-se que esta terminologia apresenta-se como um objetivo para o sistema de operação de arquivos entre softwares, mas ainda encontra-se distante de uma realidade consolidada devido a quantidade de problemas e incompatibilidades apresentadas, onde o que se pôde constatar foi apenas a exportação de linhas, formas geométricas e algumas informações, o que sugere que continuamos apenas tratando do intercâmbio de modelos.
Outra discussão que tornou-se um dos maiores desafios desta experiência foi tornar possível a interoperabilidade ou mesmo o intercâmbio de arquivos entre os softwares de projeto e o software de leitura da máquina de corte a laser, apontando que o problema da troca de informações atinge vários patamares no processo de fabricação digital. Entende-se que todas as dificuldades apresentadas em relação a interoperabilidade e trocas de informações apresentam-se como agentes impedidores do pleno desenvolvimento dos conceitos e processos integrantes do BIM.
A discussão gerada em torno deste artigo atravessa diferentes etapas integrantes do fluxo de trabalho proposto para as experiências realizadas, trazendo complementações e constatações feitas através de atividades práticas.
Keywords
References
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