Last modified: 2015-08-27
Abstract
Introdução:
O modelo (ou maquete) de representação tem papel importante como estratégia no desenvolvimento e na materialização das ideias do arquiteto. Ele entra como ferramenta de estudo da materialidade e volumetria do projeto. Silva (2000) destaca que Michelangelo, na capela de São Pedro, usou os modelos como mecanismo antecipador, ou seja, uma ferramenta para driblar o problema da representação com pensamento construtivo.
(Kowaltowski, D.C.C.K.; Moreira, D.C.; Petreche, J.R.D; Fabricio, M.M. 2011, p. 458)
O projeto de arquitetura envolve concepção e representação de ideias por meios gráficos e físicos. Croquis a mão livre, desenhos técnicos, perspectivas computacionais e modelos reduzidos são exemplos de recursos que, ao serem adequadamente combinados, possibilitam uma ampla representação do projeto e portanto, uma melhor compreensão deste. Historicamente, os primeiros registros teóricos mais fundamentados sobre o projeto e sua representação apareceram durante o período Renascentista. Ainda que a produção de obras canônicas da literatura de projeto tenha sido expressiva nesse período, essa área do conhecimento tem tido que se adaptar aos grandes saltos tecnológicos observados nas últimas décadas. Por um lado, novas tecnologias de representação de projeto estão surgindo e se desenvolvendo, por outro, para que essas técnicas sejam de fato incorporadas à prática projetual, é indispensável a realização de novas pesquisas e estudos que as contemplem. Para acompanhar essas mudanças e compreender suas aplicações no projeto de arquitetura, delimitou-se a área de estudo de Teoria do Projeto, cujos pesquisadores analisam novas técnicas e conhecimentos e as incorporam na metodologia de ensino dos arquitetos em formação.
A representação em Arquitetura é um aspecto fundamental, tanto no âmbito prático quanto teórico. Todavia, se observa que muitos profissionais e estudantes de arquitetura e urbanismo só projetam edificações que consigam representar (Kolarevic, 2008), demonstrando, assim, a existência da chamada autocensura projetiva. Um exemplo de fator impulsionador dessa autocensura é a dificuldade de representação dos modelos físicos utilizando somente as técnicas difundidas nas faculdades de arquitetura e urbanismo no Brasil atualmente. Técnicas essas que podem exigir um alto nível de perícia manual e prática para terem resultados satisfatórios. Portanto, ter de representar um projeto com maior complexidade formal com essas técnicas se torna um fator desencorajador para o estudante de arquitetura logo na fase da concepção do partido, podendo configurar um típico caso de autocensura projetiva.
Partindo dessas questões, admite-se que a implementação de técnicas de representação física de projeto que minimizem essas variáveis de imperícia ou falta de prática poderiam minimizar a questão da autocensura. Para tanto, uma possível solução seria utilizar tecnologia de impressão tridimensional de baixo custo nas faculdades de arquitetura e urbanismo, já que esse maquinário é capaz de auxiliar a execução de modelos, além de ser economicamente viável. As impressoras tridimensionais de baixo custo foram desenvolvidas pelo pesquisador Adrian Bower, da Universidade de Bath, no Reino Unido. Bower desenvolveu uma impressora que utiliza materiais baratos e de fácil obtenção e pode ser construída por qualquer pessoa. O pesquisador idealizou que as impressoras pudessem imprimir as próprias peças e assim possibilitar sua disseminação, sendo capaz de se autorreplicar. A impressora RepRap (Replicating Rapid Prototyper) usa a técnica de manufatura por fusão, depositando material plástico ou fluidos.
O funcionamento das impressoras é de fácil apreensão aos estudantes de arquitetura, que já possuem formação para utilizar softwares de modelagem 3D, uma vez que as impressões de modelos ou protótipos são feitas a partir de um modelo 3D digital. A partir desse modelo, um software livre o transforma em informações que a impressora pode decodificar, e então o modelo que estava no computador é impresso, camada por camada, no plano físico.
Em suma, o presente Estudo parte do pressuposto de que, no curso de arquitetura e urbanismo, observa-se que alguns alunos evitam desenvolver formas complexas ou trabalhar com maior liberdade formal devido a preocupação de não conseguir representar a proposta ou partido. A autocensura pode impedir que os estudantes se aventurem ao projetar formas complexas escolhendo uma linguagem de projeto devido à falta de perícia na hora de representar ou de construir modelos físicos.
O Estudo visa investigar como os estudantes vão utilizar uma máquina de impressão tridimensional e se nesse processo de projeto vão visualizar a possibilidade de criar e avançar no projeto além do que estão acostumados a fazer. A importância do trabalho está em verificar a influência de máquinas de construção digital no processo de projeto e como a utilização desse maquinário poderá influenciar o ensino para os futuros arquitetos possam pensar novas formas de execução de edificações usando a indústria como aliada direta na produção de elementos construtivos e na concepção de novas técnicas para a indústria da construção civil.
Os custos reduzidos da produção com a prototipagem rápida e mesmo a possibilidade de construção de impressoras 3D para o uso pessoal poderá modificar a forma de projetar e mesmo de pensar a produção de objetos. O estudo pretende analisar como as novas técnicas de construção digital influenciará os ateliês e na formação dos estudantes de arquitetura e urbanismo.
Procedimentos Metodológicos:
O método de investigação utilizado para definir a influência das impressoras 3D será o acompanhamento dos alunos da matéria de Projeto Arquitetônico 02 (P.A. 02) do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, no primeiro e segundo semestre de 2015. A matéria Projeto Arquitetônico 02 é ministrada no segundo semestre do curso de graduação arquitetura e urbanismo. A opção em analisar a turma de uma matéria inicial se deu para evitar a chance dos estudantes possuírem uma maior fundamentação teórica de projeto. Dessa maneira, evita-se que os resultados sejam influenciados pela experiência e linguagem projetuais próprias já desenvolvidas.
A turma será dividida em dois grupos. O primeiro sendo o controle, no qual os alunos não terão a possibilidade de utilizar impressoras tridimensionais para ajudar a desenvolver e apresentar seus projetos. Esse grupo será utilizado como controle, para possibilitar uma comparação com os trabalhos dos alunos que utilizarão a impressora 3D. O segundo grupo terá a possibilidade de utilizar a impressora tridimensional de baixo custo, RepRap, para criar modelos físicos volumétricos ou partes de seus modelos para apresentação. O segundo grupo não poderá ser influenciado nem coagido a criar formas complexas apenas para utilizar no processo de impressão. Os estudantes devem se sentir livres para criar da melhor forma que definirem.
Resultados:
Quanto à metodologia adotada, têm-se as seguintes observações/considerações. Os grupos saberão que estão participando de um estudo. Contudo, para que os alunos possam ter a liberdade de projetar sem se sentirem pressionados a buscar formas mais complexas, não saberão o real motivo de serem divididos em dois grupos. Serão criados conjuntos de critérios para a avaliação das formas desenvolvidas para os projetos. A avaliação utilizará questionários respondidos pelos alunos para medir as intenções com relação aos partidos desenvolvidos e se a possibilidade de utilizar uma impressora 3D contribuiu para a definição formal do projeto. Além disso, listas de conferência serão criadas para analisar as formas desenvolvidas e se os estudantes criarão ou não composições mais complexas, diferenciando em que grupo cada aluno está inserido e assim fazer um levantamento numérico com relação a complexidade adotada.
Os projetos serão classificados pela observação da utilização de geometrias complexas como dupla curvatura, toros, poliedros ou formas livres, que possam apresentar uma dificuldade de execução com maquetes feitas de uma forma mais tradicional.
Por fim, o estudo investigará como a impressão tridimensional influencia na definição do projeto. Será avaliada a possibilidade desse maquinário ajudar no processo de projeto e na inserção ao pensamento da construção digital já nos primeiros períodos de formação dos futuros arquitetos. Para tanto, será analisado até que ponto a utilização da tecnologia de impressão 3D contribui no raciocínio projetual em ateliê.
Discussão:
O estudo contribuirá para a inserção de impressoras 3D nos ateliês de projeto arquitetônico. Os resultados obtidos com o estudo e os questionários ajudarão a definir como professores incluirão a prototipagem rápida no ensino de projeto e em que fase. A necessidade de se definir em que fase do ensino do projeto deve se inserir as máquinas de impressão tridimensional é em decorrência da importância de manter técnicas manuais de produção de maquetes e modelos, tais como maquetes de papel e madeira, na formação dos estudantes.
Referências:
A pesquisa de suporte do estudo utilizara livros e textos do autor Branko Kolarevic. Kolarevic define que os arquitetos projetam o que podem representar, esse raciocínio embasa o estudo e contextualiza a utilização da prototipagem rápida no âmbito do ensino de arquitetura. Outros autores como Bruno Zevi (Saber Ver a Arquitetura ,1996), Bryan Lawson (How Designer Think, The Design Process Demystified, 2005), Edward Robbins (Why Architects Draw, 1997). Esses e outros autores serão consultados para o desenvolvimento da fundamentação teórica de projeto e para investigar o raciocínio projetivos dos alunos e como a introdução do novo elemento de trabalho.
Keywords
References
Kowaltowski, D.C.C.K.; Moreira, D.C.; Petreche, J.R.D; Fabricio, M.M. 2011, p. 458
Kolarevic, Branko. Architecture in The Digital Age: Design and Manufacturing, 2008.
Zevi, Bruno. Saber Ver A Arquitetura, 1996
Lawson, Bryan. How Designer Think, The Design Process Demystified, 2005.
Robbins, Edward. Why Architects Draw, 1997.