Introdução

A evolução dos meios digitais tem proporcionado significativas mudanças socioculturais, em função das modificações que ocorrem nos modos de vida contemporâneos. A velocidade e a dinâmica de disponibilização do conhecimento, as bases tecnológicas que se diversificam e se especializam cada vez mais, assim como as relações interdisciplinares e as trocas possíveis de serem feitas em níveis cada vez mais ampliados, vêm alterando o modo de se pensar, de se projetar e de se produzir em arquitetura e urbanismo.

Concomitantemente a esta gama de atualizações e desenvolvimentos, os processos digitais de projeto apresentam uma série de caminhos que se abrem, tanto de um ponto de vista teórico, discutindo e propondo abordagens que apontem outras possibilidades para problemas arquitetônicos contemporâneos, como de um ponto de vista prático, utilizando software, máquinas e equipamentos para otimizar a capacidade de produção e potencializar a performance da arquitetura que se pode produzir atualmente.

Se por um lado se torna importante o desenvolvimento teórico, na medida em que a proposição de estruturas, métodos ou esquemas conceituais traz outros olhares para a questão dos processos digitais de projeto, por outro, a evolução tecnológica possibilita a utilização de uma lógica que explora mais profundamente outros procedimentos construtivos e materiais que passam a ser utilizados, em função de suas propriedades físicas, químicas e biológicas.

Um possível discurso integrador e não-determinista em direção à construção de fundamentações que forneçam suporte para uma arquitetura produzida a partir da mediação digital, e que se imagine reunindo diferentes estratégias e as mais variadas pesquisas sobre processos digitais de projeto, necessita se concentrar, em nosso ponto de vista, tanto em aspectos de natureza teórica, dos mais diversos campos do conhecimento, quanto em aspectos de natureza prática, da ordem da experiência. Deste modo, acreditamos que o ensino de projeto em arquitetura e urbanismo precisa acompanhar as atualizações necessárias, incorporando as características dos modos de concepção a partir da programação, do uso de algoritmos e definições de parâmetros, e de sistemas de modelagem organizadores da informação (BIM), presentes nos processos digitais de projeto, de modo a ampliar possibilidades dentro de uma diversidade de abordagens metodológicas possíveis de serem aplicadas, testadas, integradas e implementadas nos currículos e nas práticas do ensino de projeto nos cursos de arquitetura e urbanismo, especialmente no Brasil.

Procedimentos Metodológicos

O artigo proposto pretende realizar uma análise comparativa, em função de algumas experiências realizadas. Uma primeira, no âmbito da disciplina Representação e Criação Digital, implementada no curso de arquitetura e urbanismo da universidade XXXX em 2014, e outras três em oficinas ministradas: um  workshop de Modelagem Digital (Revit), realizado em 2013, no curso de arquitetura e urbanismo da universidade XXXX, o workshop Processos Digitais de Projeto (Rhino+Grasshopper) realizado no curso de arquitetura e urbanismo da universidade XXXX,  em 2015, e o workshop Processos Digitais de Projeto: Metodologia em Revisão (Rhino+Grasshopper), realizado junto ao XXXX, no curso de arquitetura e urbanismo da universidade XXXX, também em 2015.

Para o planejamento, tanto da disciplina e sua inclusão no novo projeto pedagógico do curso de arquitetura e urbanismo da universidade XXXX, como dos workshops realizados, foi necessário criar uma estrutura no nível do metadesign das etapas relacionadas ao desenvolvimento de processos baseados em uma lógica de pensamento paramétricos e algorítmicos, que pudesse abordar o problema do projeto arquitetônico a partir de outras considerações. Estas considerações levam em conta algumas teorias, advindas de vários campos disciplinares, como por exemplo a Cibersemiótica, a Cibernética, a Complexidade, a Biologia e a Matemática, apenas para citar alguns. Em relação a estes aspectos de natureza teórica, acreditamos que a chave de leitura que permite vislumbrar todo o potencial que pode ser desenvolvido, passa necessariamente pela questão da comunicação, do processamento e da organização da informação presentes nos processos digitais de projeto.

Cabe ainda acrescentar que a proposta do artigo se apoia em uma fundamentação teórica desenvolvida na tese de doutorado produzida e defendida em 2014, intitulada XXXXX, orientada pela professora XXXXXX, junto ao XXXXX. Além disso, o cenário que se apresenta indica que as possibilidades de construção de redes colaborativas entre pesquisadores, laboratórios e universidades estão cada vez mais se ampliando, seja a partir de congressos e eventos como o SIGRADI [1], o CAADRIA [2], o eCAADe [3] o ACADIA [4] e o CAAD Futures [5], por exemplo, ou em ações diretas entre os agentes dessas e de outras redes.

Resultados

Os resultados esperados estão relacionados à uma sugestão de uma proposta metodológica para o ensino de projeto em arquitetura e urbanismo, levando em consideração as possibilidades advindas da mediação digital e as possíveis integrações inter e transdisciplinares. Estes resultados serão obtidos a partir da análise comparativa que será realizada em função das experiências de ensino e práticas realizadas, conforme citadas anteriormente, desde a fase de planejamento das ações, da disciplina e dos workshops, até as implementações, verificações e ajustes realizados, do material produzido e das conclusões que serão apresentadas e posteriormente criticadas.

Esta proposta metodológica não terá, obviamente, a pretensão de constituir-se em uma única possibilidade, e reconhecemos, pelos diversos contatos que tivemos, ao longo do processo de doutoramento, e de participação em outros eventos e workshops relacionados ao tema, que existem muitos caminhos possíveis de serem adotados, como existem também muitos pesquisadores e profissionais se dedicando à questão.  Nosso objetivo concentra-se em tentar trazer possíveis contribuições para o ensino e a prática da arquitetura e urbanismo, especificamente relacionadas aos processos digitais de projeto.

Discussão

Em linhas gerais, podemos afirmar que estratégias projetuais que se apoiam em processos digitais e que se utilizam, por exemplo, de características presentes tanto no BIM como no design paramétrico, avançam para além do caráter meramente representativo do projeto de arquitetura e fazem com que ele se torne uma simulação da futura construção, uma espécie de signo evoluído do projeto arquitetônico em direção à obra, o que permite maior precisão na compatibilização de projetos, análises estruturais e ambientais, redução de impacto ambiental pela otimização de materiais, potencialização da performance do edifício, planejamento e gestão do ciclo de vida da construção, entre outras contribuições (Figura1).

Figura 1: Rhino + Grasshopper +Geco + Ecotect: iluminação como parâmetro de projeto. Fonte: autores, 2015.

Iniciativas como a que ocorreu na ação conjunta entre as universidades XXXX e XXXX em junho de 2014, a partir da proposta de produção dos protótipos dos alunos da disciplina Representação e Criação Digital do Curso de Arquitetura e Urbanismo da universidade XXXX, com a utilização do laboratório de fabricação digital do XXXX, confirmam este indicativo. O exercício de projeto [parklets] envolveu processos digitais de projeto, com a utilização de design paramétrico e fabricação digital. A partir do conceito dos parklets proposto para São Paulo/SP [6], foram desenvolvidas algumas adaptações para XXXX e os projetos foram desenvolvidos e prototipados em escala 1/20 com a orientação da equipe de professores da XXXX. Posteriormente, com a supervisão dos professores da XXXX e capacitação realizada por pesquisadores do XXXX, o processo de produção foi realizado em XXXX e o processo de montagem foi finalizado em XXXX.

Do mesmo modo, o processo que começa a ocorrer em várias universidades e que demonstra o interesse pela montagem de laboratórios de prototipagem e fabricação digital, assim como a busca por profissionais com um perfil especializado na área de processos digitais de projeto e a possibilidade de utilização de vários tipos de software legalizados em versões educacionais, tudo isso indica um movimento de atualização do ensino e da pesquisa voltados para processos de projeto a partir da mediação digital.

Este cenário promove uma importante questão, a de que os processos digitais de projeto trazem consigo responsabilidades, tanto em nível acadêmico, como também em uma esfera de atuação profissional que repercute no nível sociocultural. As discussões estão ainda em fases iniciais, mas algumas ações por parte de pesquisadores já estão sendo realizadas e percebemos alterações significativas em relação às abordagens possíveis de serem adotadas para as questões de concepção arquitetônica assim como em relação às respostas dos acadêmicos quanto à utilização destas possibilidades.

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[1] SIGRADI, congresso da Sociedad Iberoamericana de Gráfica Digital: http://www.sigradi.org/.

[2] CAADRIA, congresso da Association for Computer-Aided Architectural Design Research in Asia: http://www.caadria.org/.

[3] eCAADe, congresso da Education and research in Computer Aided Architectural Design in Europe: http://www.ecaade.org/.

[4] ACADIA, congresso da Association for Computer Aided Design in Architecture in North America: http://acadia.org/

[5] CAAD Futures, congresso da Computer-Aided Architectural Design Futures Foundation:  http://www.caadfutures.org/

[6] Site Gestão Urbana: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/parklets/.