XIX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, 

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ARGUMENTAÇÃO E MODELAGEM GEOMÉTRICA 3D COMO MÉTODOS DE ANÁLISE INTEGRADA DO PROCESSO PROJETUAL NO ENSINO DA ARQUITETURA, UBANISMO E PAISAGISMO
PATRICIA PORTO CARREIRO, REJANE DE MORAES RÊGO, ADEILTON FEITOSA

Last modified: 2015-08-27

Abstract


PALAVRAS-CHAVE: ARGUMENTAÇÃO, MODELAGEM GEOMÉTRICA 3D, PROCESSO PROJETUAL, PROCESSO ANALÍTICO

INTRODUÇÃO

problematização:

Este artigo descreve e analisa a experimentação pedagógica que vem sendo realizada na disciplina de Arquitetura Analítica (AA) do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (CAU/UFPE). AA é uma das inovações introduzidas no CAU/UFPE em 2010, quando da implantação do novo Projeto Pedagógico (PPC2010) e, desde 2013.1, vem em constante mudança configurando a experimentação apresentada a seguir.

De 2010 a 2012, AA centrou na análise gráfica de edifícios por meio de sua representação bidimensional estruturada segundo referenciais teóricos Ching (1984) e Clark e Pause (1987). O processo analítico conduz à compreensão do todo através do entendimento de suas partes. Em AA, a análise gráfica bidimensional foi o instrumento utilizado na investigação de subsistemas físicos, de uso /função e de desempenho (referenciais/características projetuais) de edifícios estudados para posterior interpretação da ideia geradora (ideia síntese) dos projetos. A partir de 2013, se vem construindo uma nova abordagem para o processo analítico posto em prática na disciplina, foco deste artigo, tentando-se aproximá-lo aos princípios pedagógicos do PPC2010 e ao que vem sendo feito nas disciplinas de Projeto. Assim, atualmente, o processo analítico toma como métodos de análise não só uma descrição gráfica tridimensional, mas, também, uma descrição verbal que se relacionam e constroem um discurso sobre o edifício analisado. Torna-se relevante neste processo se chegar até as implicações espaciais, socioeconômicas e ambientais dos projetos. Para tanto, toma-se como referenciais teórico-metodológicos a fenomenologia do “lugar” (NORBERG-SCHULZ e DIGERUD, 1981; TUAN, 1983), evidenciando o contexto de atuação e as afirmações dos arquitetos; o “método computacional do projeto” (MITCHELL, 2008), conduzindo o processo de análise propriamente dito; e os eixos organizadores dos lugares arquitetônicos (COELHO NETTO, 1999), avaliando as implicações espaciais dos projetos.

relevância:

No PPC2010, as mudanças pedagógicas propostas visam

ampliar as capacidades do profissional de Arquitetura e Urbanismo que o Curso estará formando, seja pela dinâmica que requer uma busca permanente de inovação de métodos e procedimentos, em acordo com as demandas da sociedade, seja pela efetiva relação de proximidade com a problemática da cidade pelo princípio da indissociabilidade de compreensão entre os espaços privados (as edificações) e os espaços públicos (a cidade) (AMORIM et al, 2010).

Procura-se que, desde o início da sua formação acadêmica, o estudante desenvolva leitura e compreensão crítica da cidade em uma educação proativa, integrada, flexível, vivenciada e de qualidade. Para tanto, se fundamenta em três diretrizes principais (PORTO CARREIRO E RÊGO, 2014):

  • a indissociabilidade do problema projetual da cidade/paisagem/edifício,

  • a interdisciplinaridade e

  • a aprendizagem baseada em problemas.

Por outro lado, sabe-se que o problema projetual integrado está relacionado diretamente à construção e à manipulação de vários tipos de dados em diferentes modelos de representação de cidades ou edifícios. A matéria de Informática aplicada à Arquitetura e Urbanismo (InfoAU) do CAU/UFPE vem [1] construindo procedimentos integrados das Tecnologias de Gestão, Colaboração e Comunicação, [2] trabalhando com um ou mais tipos de sistemas de informação de bases específicas: geométrica, geográfica, topológica, semântica, etc e [3] fazendo experimentações pedagógicas para testar [1] e [2].

Tanto o PPC2010, quanto a complexidade do processo projetual arquitetônico evidenciam a urgência por uma metodologia que possa ser embasada por processos analíticos que perpassem por vários método, conduzindo a um processo projetual integrado próprio da arquitetura.

objetivos:

- Estudar e integrar métodos e processos analíticos como uma forma a se alcançar uma metodologia do processo projetual e uma linguagem própria da arquitetura;

- Vislumbrar meios de implementação computacional destes métodos e processos.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A disciplina AA é obrigatória e ofertada no segundo semestre do CAU/UFPE. Tem apenas 15 horas/aula e seu objetivo geral é aplicar à edificação métodos analíticos referentes a subsistemas físicos, de uso/função e de desempenho pelos quais, por consequência, se analise o sistema espacial, a ideia geradora da edificação e suas influências nos demais.

Para tanto, a partir de 2013, norteada pela busca de uma metodologia e uma linguagem própria da arquitetura, a disciplina foi metodologicamente estruturada em três etapas, cada qual utilizando procedimentos didáticos-pedagógicos (métodos, técnicas e instrumentos) específicos para atingir o conhecimento necessário. São elas:

_ CONTEXTUALIZAÇÃO (4 horas/aula):

Apresenta-se e discute-se conceitos de arquitetura como arte, ciência, estilos, etc; a matéria da arquitetura: espaço X lugar e não lugar; como criar um lugar e ver a cidade como um lugar; eixos organizadores dos lugares arquitetônicos: Interior X Exterior, Privado X Comum, Construído X Não-construído, Artificial X Natural, Amplo X Restrito, Geométrico X Não-geométrico (NORBERG-SCHULZ e DIGERUD, 1981; TUAN, 1983; COELHO NETTO, 1999).

_ PROCESSO ANALÍTICO (8 horas/aula):

Em grupos de 4 a 5 alunos, escolhe-se um edifício e tenta-se explicar a ideia geradora do pensamento arquitetônico intrínseco a ele, adotando-se a decomposição e a análise de seus subsistemas: estrutural, de aberturas (ventilação/iluminação), volumétrico, de circulação, de uso/função e de delimitação; considerando a sua estrutura espacial como sistema integrador destes subsistemas. Baseia-se no “método computacional do projeto” (MITCHELL, 2008) para a construção de um discurso da edificação analisada, associando-se por inferência lógica simples uma descrição verbal (argumentos) a uma descrição gráfica tridimensional (modelo geométrico 3D) para analisar cada subsistema.

_IDEIA GERADORA E IMPLICAÇÕES ESPACIAIS: (3 horas/aula):

Após análise dos subsistemas, por consequência, se analisa o sistema espacial determinando qual dos subsistemas analisados foi responsável pela ideia geradora da edificação e suas influências nos demais.

Ainda, há a associação do discurso formal da edificação analisada a implicações espaciais relacionadas aos eixos organizadores dos lugares arquitetônicos, inicialmente discutidos (COELHO NETTO, 1999).

 

RESULTADOS

Segundo o PPC2010, no primeiro ano do CAU/UFPE é trabalhado o tema REQUALIFICAÇÃO (análise do existente), ou seja, aprender a perceber o espaço urbano, os objetos arquitetônicos e a paisagem com o foco na mudança de uso, chegando-se a pequenas reformas e até a uma renovação. No primeiro semestre, os calouros estudam um recorte de um bairro do Recife ou da região metropolitana, identificando problemas e aspectos característicos do local e de sua população propondo uma intervenção urbana. No segundo semestre, desenvolvem uma intervenção arquitetônica na área estudada mantendo a coerência e reavaliando a proposição urbanística do semestre anterior.

Assim, a construção em AA de uma DESCRIÇÃO VERBAL contendo argumentos identificando e explicitando objetos, partes de objetos, predicados, funções e a relação entre estes elementos através de frases em português, apesar do uso de uma linguagem ambígua, auxilia o estudante iniciante a identificar, explicitar e descrever os subsistemas dos edifícios. Concomitantemente, com a construção de uma DESCRIÇÃO GRÁFICA, segmentando a modelagem geométrica 3D por objetos, partes dos objetos correspondentes a cada subsistemas, faz com que os estudantes confrontem os argumentos verbais com as representações gráficas, reavaliando um ao outro, até atingir um DISCURSO ARQUITETÔNICO do edifício estudado usando o mecanismo lógico de inferência.

 

Assim, a partir da avaliação inicial dos resultados (trabalhos dos alunos) e do próprio procedimento didático-pedagógico concluiu-se o processo analítico é compreendido pelos alunos que conseguem fazer discursos adequados dos edifícios estudados e implicações espaciais coerentes.

As observações e análises iniciais ainda indicam que o esforço da construção de um processo analítico no início do Curso explicita a complexidade do ato projetual e da necessidade de uma metodologia para a integração dos conhecimentos das várias disciplinas envolvidas na resolução de um problema espacial. Contribuiu para que os estudantes reflitam sobre o seu próprio processo projetual e não só sobre o produto (proposta) das disciplinas de Projeto, assim como sobre a exigência de adoção de procedimentos estruturados de gestão, colaboração e comunicação da informação como condição básica para uma integração eficiente dos conteúdos multidisciplinares.

Contudo, a experiência sinaliza que a análise fica prejudicada pela falta de maturidade dos alunos com o objeto estudado: a edificação, pois iniciam este estudo do processo projetual no mesmo período de AA. Especificamente, a dificuldade não é na compreensão do processo analítico nem no procedimento didático-pedagógico adotado, e sim na falta de conhecimento dos conteúdos analisados e, consequentemente, da articulação destes com vista a embasar as decisões projetuais. Entretanto, essa mesma dificuldade está permitindo que compreendam quão complexo é o ato projetual integrado e a proposta curricular do CAU/UFPE. Ambos, exigem a formulação de novas dinâmicas didático-pedagógicas que estimulem a integração dos conteúdos multidisciplinares.

 

DISCUSSÃO

Os resultados iniciais nos sugerem que [1] seja reavaliada a oferta de AA, passando-a para o meio do Curso e [2] podemos seguir aprimorando o processo analítico de AA na busca de parâmetros para uma metodologia e linguagem própria da arquitetura por:

_ Ampliar o objeto de estudo para o urbano e investigando métodos e processos analíticos para tal;

_ Passar os argumentos para sentenças de lógica de 1ª ordem usando lógica formal como orientado por MITCHELL (2008), verificando a possibilidade de construção de registros e arquivos para cada projeto analisado;

_Trabalhar com sistemas de modelagem tridimensional paramétrica (Rhino) para associar as sentenças lógicas de cada subsistema com sua modelagem geométrica e testar possíveis intervenções nos projetos estudados.

 

REFERÊNCIAS

AMORIM, L., LEITE, M.J., GONÇALVES, G., PORTO CARREIRO, P. (2010). Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPE – Diretrizes da Reforma Curricular. Recife, Brasil: CCEPE-UFPE.

CHING, F. Arquitectura: forma, espacio y orden. México. Gustavo Gili. 1984.

CLARK, R. H.; PAUSE, M. Arquitectura: temas de composición. México. Gustavo Gili. 1987.

COELHO NETTO, J. T. A construção do sentido na arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 4ª edição, 1999.

MITCHELL, W. A lógica da arquitetura: projeto, computação e cognição. Campinas: UNICAMP, 2008.

NORBERG-SCHULZ, Ch.; DIGERUD, J.G. Louis I. Kahn, idea e imagen. Madrid. Xarait. 1981.

PORTO CARREIRO, P.; RÊGO, R. M. Mapas Mentais e Ferramentas Computacionais na Gestão da Informação do Processo de Ensino Projetual da Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo. In: Anais 17 SiGRADi 2013 - XVII Congreso de la Sociedad Iberoamericana de Gráfica Digital, Vol. 1, pp.?-?, Valparaíso, Chile, 2013.

_______________________________. Novas práticas pedagógicas da matéria de Informática aplicada à Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo: Experimentações dentro do Novo Currículo do Curso de Arquitetura e Urbanismo/UFPE. XXXIII ENSEA/ XXXVI COSU: O Ensino de Arquitetura e Urbanismo: Teoria e Prática. ABEA, 39, (224-242), 2014.

TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.


Keywords


ARGUMENTAÇÃO, MODELAGEM GEOMÉTRICA 3D, PROCESSO PROJETUAL, PROCESSO ANALÍTICO

References


AMORIM, L., LEITE, M.J., GONÇALVES, G., PORTO CARREIRO, P. (2010). Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPE – Diretrizes da Reforma Curricular. Recife, Brasil: CCEPE-UFPE.

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COELHO NETTO, J. T. A construção do sentido na arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 4ª edição, 1999.

MITCHELL, W. A lógica da arquitetura: projeto, computação e cognição. Campinas: UNICAMP, 2008.

NORBERG-SCHULZ, Ch.; DIGERUD, J.G. Louis I. Kahn, idea e imagen. Madrid. Xarait. 1981.

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_______________________________. Novas práticas pedagógicas da matéria de Informática aplicada à Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo: Experimentações dentro do Novo Currículo do Curso de Arquitetura e Urbanismo/UFPE. XXXIII ENSEA/ XXXVI COSU: O Ensino de Arquitetura e Urbanismo: Teoria e Prática. ABEA, 39, (224-242), 2014.

TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.

 


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