Last modified: 2015-08-27
Abstract
O objetivo do presente estudo é analisar as singularidades do processo de projeto quando direcionado para experiências de colaboração e para a concepção de arquitetura digital (parametrização, sistemas generativos). Tem sua importância destacada pela necessidade de atualização dos métodos de ensino de projeto de arquitetura, quanto ao aspecto acadêmico e pela necessidade de requalificação da área de intervenção do presente projeto, Centro de Desportos da <OMITIDO P REVISÃO>, que abrange o aspecto da prática arquitetônica.
A busca por inovação no processo de aprendizagem do ato de projetar em arquitetura nos remete à teoria de Christensen et al (2012) na busca por uma abordagem modular centrada no aluno, corroboram a visão de Schon (2000) da prática reflexiva (conhecer-na-ação, reflexão-na-ação e reflexão sobre a reflexão-na-ação) e destaca principalmente que as teorias vigentes sobre como os arquitetos e designers projetam, Lawson (2011), precisam ser aprofundadas na busca do entendimento de como estudantes de arquitetura projetam, principalmente dentro do seu contexto de realidade cultural e social.
“O início da arquitetura é o espaço vazio, caracterizado por Platão em Timeu como “a mãe e receptáculo de todas as coisas criadas e visíveis e de certa forma sensíveis”. A arquitetura é a arte das distinções no espaço contínuo, por exemplo, entre o cheio e o vazio, o interior e o exterior, a luz e a escuridão, o calor e o frio.” (Mitchell, 2008, p.15).
O Centro de Desportos da <OMITIDO P REVISÃO> é constituído por ginásios esportivos, laboratórios e salas de aula, que incluem cinco quadras de tênis, oito quadras poliesportivas e duas quadras de areia. Além disso, possui uma piscina coberta e um campo de futebol com pista de atletismo. A grande maioria desta infraestrutura foi construída na década de 70, com a criação da Universidade e do Curso de Educação Física. Desde então poucas alterações e investimentos aconteceram no campus, causando a deterioração desta infraestrutura. Quadras inutilizadas pela falta de manutenção, iluminação noturna insuficiente, espaços inadequados às atividades dos usuários são alguns dos problemas observados no local, o que desestimula as pessoas da comunidade, alunos e atletas da universidade para a prática de atividades físicas no centro de desportes.
Tendo em vista a necessidade de revitalização e adequação deste espaço para a demanda de uso atual, a realização de um projeto foi solicitada pela coordenação do Centro de Desportes. A intenção desta reforma é atender não só estudantes de educação física, mas também demais estudantes da Instituição, alunos do Colégio de Aplicação (colégio situado no campus) e toda a comunidade.
Para atender à solicitação do CDS e às necessidades da comunidade como um todo, o projeto contempla a construção de um ginásio, de uma cobertura para duas quadras e a revitalização de espaços residuais do entorno, com proposta de espaços para socialização. Devido à grande área de atuação, à complexidade do programa, à multiplicidade de usuários e usos, e à necessidade de sanar problemas de implantação e acessos existentes, optou-se por desenvolver um processo colaborativo com alunos de graduação de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil, bem como alunos de Pós-Graduação destas áreas de conhecimento, na forma de um workshop.
O processo ocorreu em três etapas, uma anterior ao workshop, o workshop em si e outra posterior.
A etapa anterior ao workshop serviu como aproximação com o tema e preparação para os dias do workshop de projeto. Nesta etapa houve estudos teóricos sobre espaços esportivos e conceitos de projeto, reconhecimento do local através da análise Walkthrough, entrevistas individuais e com grupos focais para compreender as necessidades dos usuários, visitas a casos similares e participação em conferências sobre qualidade de projeto e arquitetura digital. Ainda nesta etapa foram realizados dois cursos de aperfeiçoamento das técnicas de arquitetura digital, a fim de compreender melhor a parametrização de projetos, entender a teoria da gramática de formas, e a utilização de linguagem algorítmica e sistemas generativos no processo projetual.
O Workshop Colaborativo de Projeto em si foi divido em três dias de maratona de projeto, e foi composto por três equipes de trabalho com alunos dos cursos de graduação em arquitetura e urbanismo e engenharia civil, além de alunos de pós-graduação. O workshop contou com apresentações iniciais sobre o objeto de estudo, o contexto físico e humano e as temáticas de qualidade a serem incorporadas no projeto. Também contou com palestras sobre fabricação digital, sistemas construtivos e conforto ambiental.
No período vespertino do primeiro dia, durante o período integral do segundo dia e período matutino do terceiro dia ocorreu o processo de desenvolvimento projetual por parte das equipes, no período vespertino do terceiro dia ocorreram as apresentações das propostas desenvolvidas pelas equipes, bem como debate coletivo sobre a experiência.
Optou-se como método de desenvolvimento da maratona de projeto CDS a criação de um partido geral de arquitetura por equipe de trabalho de modo a incentivar a livre definição de método projetual com a menor interferência possível dos orientadores, fato que tem por objetivo verificar quais processos serão adotados de modo intuitivo pelas equipes. Todo o desenvolvimento do workshop foi registrado por filmagem, pela utilização de uma câmera portátil Epson.
Ao observar o desenvolvimento das propostas de partido concebidas pelas equipes três elementos foram verificados: capacidade de trabalho colaborativo, método de geração formal e ferramentas de trabalho utilizadas. Dentro da análise do método de geração formal, verificou-se a influência dos precedentes estudados previamente na definição da composição formal adotada.
Do processo de finalização da pesquisa foi possível verificar que a premissa obtida pelo processo de pesquisa-participante da maratona de projeto é fundamentada, pois a análise estruturada do precedente foi a ferramenta que possibilitou identificar a principal característica tipológica, o sistema de pórtico estrutural, o qual é presente e marcante na definição de tipologia de ginásios esportivos. Este fato tornou o processo de geração formal, antes visto como algo complexo e intuitivo e com resultados utópicos, em um procedimento com um método objetivo e com um resultado pragmático, mas com qualidade na geração da forma.
O processo de parametrização e performance da forma permaneceu durante todo o processo como um elemento conceitual e a adequação do mesmo com a geração da forma é indicado somente no design do elemento de envoltório da edificação, por meio de desenho representativo, mas sem possibilidade de verificação de desempenho quanto aos fatos propostos de performance de insolação, iluminação e ventilação.
Após o desenvolvimento do workshop, foi realizada uma sistematização das diretrizes projetuais definidas pelas três equipes e desenvolvido um anteprojeto síntese para a revitalização do Centro de Desportos considerando as condicionantes físicas e humanas do local, e todo o arcabouço de ideias geradas pelo processos colaborativos.
Nesta proposta foi desenvolvida uma nova proposta de implantação do CDS, a cobertura de duas quadras poliesportivas, o ginásio e o reposicionamento de outras quadras, com orientação solar mais adequada com direção norte-sul. A nova proposta de implantação das quadras externas, assim como a orientação da nova edificação, foram elaboradas para possibilitar um eixo de circulação entre o Centro e os demais equipamentos da UFSC. O caminho proposto permite acesso direto à edificação das salas de aula, cortando o CDS por entre o novo ginásio e as quadras cobertas. O projeto paisagístico procurou melhorar não só a qualidade do local como ambiente de convivência mas também de estar e de passagem. O projeto propõe não só a reestruturação dos caminhos e vegetação, mas também a aplicação de pavimentos, iluminação e componentes específicos, como academia ao ar livre e uma praça. O projeto do novo ginásio oferece um espaço inteiramente acessível e ergonômico composto por uma quadra poliesportiva, salas de aula, arquibancada, lanchonete - direcionada para o exterior-, vestiário e por componentes de apoio, como almoxarifados e plataforma elevatória para pessoas com necessidades especiais. A envoltória do ginásio foi trabalhada com uma tela metálica parametrizada com objetivo de controle de iluminação e insolação internas.
Ao final de todo o processo, pode-se concluir que o processo colaborativo realizado para o desenvolvimento de um projeto tão complexo foi a melhor opção, pois pode contar com a expertise de diferentes profissionais e embasar a proposta final de forma mais madura. Além disso o projeto teve uma grande aceitação pelos dirigentes do Centro de Desportos pois abrangeu diversas solicitações e solucionou diferentes problemáticas que são enfrentadas pelos usuários atualmente.
Keywords
References
CHISTENSEN, Clayton M, HORN, Michael; JOHNSON, Curtis W. Inovação na sala de aula: como a inovação disruptiva muda a forma de aprender. Tradução: Rodrigo Sardenberg. Ed. atual e ampl. Porto Alegre: Bookman, 2012.
LAWSON, Bryan. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de textos, 2011.
MITCHELL, William J. A lógica da arquitetura: projeto, computação e cognição; tradução: Gabriela Celani – Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2008.
SCHON, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.