Last modified: 2015-08-27
Abstract
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento tecnológico e da comunicação trouxeram grandes contribuições em todas as esferas. Como consequência disso, temos a proliferação de aparelhos (móveis ou não) que transmitem e recebem sons, imagens e vídeos; tais ações alteram comportamentos e criam novas formas de acesso às informações, de relacionamento com as pessoas e com os saberes a serem desenvolvidos.
Com isso, à medida que o acesso às tecnologias e dispositivos se amplia pela redução dos preços dos aparelhos como tablets, smartphones e computadores portáteis, assim como dos serviços de disponibilização de rede e telefonia, aumenta também a convergência das mídias[1] em dois aspectos distintos: convergência do conteúdo e convergência tecnológica dos artefatos midiáticos. Entretanto, para utilizá-los é preciso compreender as potencialidades e limites de cada mídia assim como a cultura dos indivíduos envolvidos (GUMUS; OZAD, 2011 apud SILVA; SARTORI; SPANHOL, 2013) o que implica em mudanças significativas nas formas de lidar com as mídias. As novas gerações, usuários chamados nativos digitais[2] (PRENSKY, 2001), adaptam-se rapidamente e conseguem usufruir de forma natural ao passo que os mais velhos, ditos imigrantes, sentem dificuldades e não conseguem lidar bem com tantas transformações. Na educação, muitos professores, talvez imigrantes, podem se sentir intimidados com tanta destreza dos estudantes nativos.
Se por um lado os desafios no uso das mídias são muitos, por outro as oportunidades também se ampliam, principalmente para pessoas com deficiência que podem participar mais ativamente da sociedade como sujeitos ativos e produtivos, graças ao desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e das Tecnologias Assistivas (TAs) que permitem o acesso à educação e ao trabalho. Segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Humano da Presidência da República, houve aumento de 8,3% da participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho no período de 2012/2013 na ocupação de 27,5 mil vagas de emprego formal (BRASIL, 2014). Segundo a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), boa parte das contratações acontece devido à lei de cotas, porém os empresários apontaram a capacitação dos candidatos/ profissionais com deficiência como um dos fatores que podem ampliar as contratações (ABRH, 2014).
A complexidade do mundo do trabalho requer qualificação dos candidatos a um posto assim como dos trabalhadores em processo, o que justifica o aumento da procura por cursos os quais permitam o desenvolvimento de competências e a melhor preparação para a conquista de uma vaga ou a elevação para patamares superiores. Esta realidade foi constatada em uma instituição de Educação Profissional expressa pelo aumento da participação de pessoas com deficiência em suas programações. Em cursos Técnicos de Nível Médio e de Formação inicial e continuada, foram 150 estudantes em 2013 e 347 em 2014, o que configura um aumento de 143%. De 347 participantes com deficiência, 76 eram da categoria visual, 85 auditiva, 144 motora e 42 cognitiva. Com relação às ações educacionais desenvolvidas, 48 estudantes participaram de palestras e os demais de cursos que variaram de 20 a 1.200 horas de estudo (SENAC, 2014/2015).
Nos cursos a distância, segundo o Anuário da Educação a Distância, em 2013, 89 das 247 instituições participantes da pesquisa atenderam estudantes com deficiência. Para o atendimento acessível, realizaram modificações, entre elas, a produção de videoaulas com legendas, adaptação de ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs) e materiais didáticos, tradução para Braille e Libras, alterações de layout com acesso via teclado, além de outras modificações (ABED, 2014).
Esses números indicam que há crescimento, independente da modalidade presencial ou a distância, por conseguinte, cuidados são necessários para que os estudantes com deficiência possam desenvolver suas competências de forma plena. Dentre esses cuidados, Macedo (2010) propõe Diretrizes de Acessibilidade em Objetos de Aprendizagem, fruto da convergência das principais recomendações – Princípios de Design Universal (para conteúdo web) + Recomendações de Acessibilidade para Criação de Conteúdo Online (W3C-WCAG 2.0 e W3C-WCAG 1.0) + IMS-ACC Guide. As recomendações das Diretrizes sugerem a disponibilização de opções alternativas para tornar as mídias (imagens estáticas, imagens em movimento, tabelas, textos, áudio e gráficos) que compõem os objetos de aprendizagem acessíveis. Diante das possibilidades de ampliação do acesso, das inovações tecnológicas e da convergência das mídias indaga-se sobre o quanto os professores estão preparados para uso das mídias assim como a mediação de situações de aprendizagem visando o progresso de todos os estudantes, uma das vertentes deste estudo.
Ao considerar que o desenvolvimento de um projeto de design instrucional de um curso com características de acessibilidade envolve equipe multidisciplinar, interação entre os atores envolvidos na elaboração de todas as etapas, acredita-se pertinente esta abordagem para a temática do evento “Informação de projeto para a interação". Motivada pela crença de que a educação potencializa o desenvolvimento de estudantes com deficiência para que possam ampliar seus horizontes, exercerem sua cidadania e, desta forma, serem inseridos no mundo do trabalho, a proposta maior é desenvolver o design instrucional acessível, obedecendo para a criação dos conteúdos as Diretrizes de Acessibilidade, utilizando a narrativa transmídia[3] em situações de aprendizagem como estratégia pedagógica. Como parte do processo, é preciso conhecer o estado da arte acerca do uso da narrativa transmídia na educação. Portanto, o objetivo deste artigo é apresentar os resultados deste levantamento que servirá de base para o desenvolvimento do projeto de design instrucional acessível.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A revisão sistemática de literatura para o levantamento do estado da arte acerca do uso da narrativa transmídia e geração de conteúdo com características de acessibilidade na Educação presencial ou a distância segue um algoritmo explícito na realização de uma pesquisa relacionada a uma questão específica (FLORES; ULBRICHT, 2015; SAMPAIO; MANCINI, 2007; OBREGON; VANZIN e ULBRICHT, 2015). A pesquisa obedece as seguintes etapas: (1) definição dos objetivos da investigação; (2) elaboração da questão da pesquisa; (3) definição dos parâmetros da pesquisa; (4) análise dos documentos e (5) síntese dos resultados.
RESULTADOS
A revisão sistemática apresenta o percurso utilizado na pesquisa, os objetivos, a questão norteadora da investigação, os termos utilizados, os filtros, os critérios de seleção e de exclusão aplicados, a síntese, a discussão do material obtido que será utilizado como subsídio para o desenvolvimento do modelo de design instrucional acessível para o uso da narrativa transmídia.
Este trabalho pretende beneficiar diretamente as equipes técnico-pedagógicas na elaboração e desenvolvimento do design instrucional de cursos, de materiais didáticos, de objetos de aprendizagem e de recursos educacionais subsidiando suas ações assim como os estudantes que poderão aprender e gerar conhecimento utilizando novas linguagens midiáticas.
Ao trabalhar na elaboração e desenvolvimento do design instrucional de cursos, de materiais didáticos, de objetos de aprendizagem e de recursos utilizando novas linguagens midiáticas, parte-se do pressuposto que problematizar e criar situações que envolvem a narrativa transmídia pode mobilizar os estudantes a desenvolver competências, gerar aprendizagem significativa e transformadora e melhorar a autonomia nos estudos por acreditar que a autoria e a colaboração possam ser elementos impulsionadores. Essa dinâmica requer criação, armazenamento e disseminação de conhecimento. Entende-se que os conteúdos podem ser reaproveitados em novos contextos ao compor de forma modularizada novas situações.
A proposta do uso da narrativa transmídia na educação é desafiadora. Está relacionada à Engenharia do Conhecimento ao envolver tecnologia para armazenamento e recuperação, processos e pessoas; à Gestão do Conhecimento ao agregar valor aos ativos da instituição, mudar processos, métodos de trabalho que estimulem a produção e distribuição e às Mídias do Conhecimento na criação de artefatos de disseminação como recursos educacionais que se fortalece pela convergência das mídias o que permite um maior fluxo desses conteúdos. É multidisciplinar desde a sua concepção e está pautada na Educação, na Comunicação, nas Tecnologias da análise até o experimento. Tem como propósito contribuir para que organizações educacionais encontrem soluções de uso e reuso dos conteúdos na elaboração do design instrucional acessível dos cursos e, desta forma, possam contribuir para a inclusão e desenvolvimento de pessoas.
[1] É a integração de diferentes formas de mídia em uma mesma plataforma. As mídias digitais permitem que telefones celulares (smartphones) possam convergir vídeo, áudio, voz, dados e TV. Outro exemplo são pacotes de TVs a cabo que permitem outros serviços como acesso à internet, jogos, além dos canais (GABRIEL, 2013).
[2] Os nativos digitais, segundo Prensky (2001), são os nascidos a partir de 1980 que aprenderam de forma natural a lidar com as tecnologias, são capazes de receber e processar informações veiculadas por textos, sons, imagens e vídeos de forma rápida e não linear. Os imigrantes digitais aprenderam de forma linear, tiveram uma educação fortemente marcada pela escrita e por isso precisam de um esforço maior para lidar com este novo contexto tecnológico. Consideração livre desta pesquisadora.
[3] “Histórias que se desenrolam em múltiplas plataformas de mídia, cada uma delas contribuindo de forma distinta para a compreensão do universo” (JENKINS, 2009, p. 384).
Keywords
References
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