XIX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, 

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Entre a cibernética e à coexistência: o uso das novas tecnologias no ensino de projeto
Camila Ferreira Guimarães

Last modified: 2015-08-27

Abstract


Em consequência do avanço e da popularização das novas tecnologias, principalmente as de comunicação, na sociedade contemporânea tem se tornado quase impossível impedir que os alunos do ensino superior, considerando nesse artigo o curso de Arquitetura e Urbanismo, não as usem dentro das salas de aula. Percebe-se então a necessidade de introduzir esse novo hábito de forma construtiva dentro do processo de ensino aprendizagem nas salas de aula. O artigo aqui apresentado tem como objetivo compreender como as ferramentas tecnológicas, em especial o computador e a internet, podem ser usadas integradas às disciplinas de Projeto de Arquitetura, a partir do suporte teórico do pensamento cibernético e da metodologia construtiva de Paulo Freire, interpretados como uma possibilidade de promover a coexistência entre os diferentes alunos dentro da sala de aula e entre estes e os professores, além da integração dos meios tecnológicos na construção de um processo de projeto, que corresponde aos desafios de uma geração de alunos equipadas com dispositivos tecnológicos.

Em relação a cibernética, o que nos interessa aqui, é entender como o pensamento com base nesse conceito pode ajudar na união entre a tecnologia e o ensino aprendizagem. O termo “cibernética” constantemente associado a computação ultrapassa a fronteira das ciências da computação e informação, podendo ser usada como forma de entender o processo de pensamento e também a articulação entre o conteúdo ensinado/mediado pelo professor ao aluno. Cibernética consiste na relação de uma determinada ação em um sistema composto por essa ação e o observador, de forma a manter uma ordem ou chegar a um objetivo final. A cibernética para Pangaro (1993) é definida como uma ciência que relaciona os sistemas mecânicos e vida das pessoas por meio da informação, da comunicação e da construção de novos entendimentos, de forma que ambos possam se complementar, um guiando o outro.

Considerando a evolução da Teoria da Cibernética, esse artigo se concentra na pesquisa da segunda fase da cibernética, Cibernética de Segunda Ordem, também conhecida como Cibernética da Cibernética, que começou aproximadamente entre os anos de 1968 e 1975, com a revisão da teoria pelos ciberneticistas Heinz von Foerster e Gordon Pask. De acordo com Miyasaka (2011), houve um amadurecimento científico, um segundo observador foi incluído como parte do sistema. A Cibernética sempre esteve interessada na circularidade do sistema, onde o observador observa o que acontece e interage com o sistema. Outro importante conceito que embasará esse artigo é a Teoria da Conversação formulada por Pask, que está associada à Cibernética dentre os seus conceitos fundamentais: a circularidade, que consiste na constante retomada do processo até que se encontre um equilíbrio. A Teoria da Conversação é uma forma de interação que se baseia na linguagem. Parte-se do princípio que cada pessoa tem seu próprio entendimento de um determinado acontecimento ou assunto, em consequência de suas experiências diárias. A conversação paskiana se dá com pelo menos dois participantes, que criam um ambiente a ser compartilhado por meio da comunicação, onde há interação e cooperação entre os envolvidos, criando novos entendimentos. Com a participação do observador no sistema podemos associar a Cibernética de Segunda Ordem com a visão da educação de Paulo Freire, onde o aluno participa ativamente com o professor da construção do seu conhecimento, permitindo uma circularidade do processo através do diálogo entre os participantes, sendo assim, a aprendizagem passível de acontecer em duplo sentido.

Uma das maiores contribuições entre a Cibernética e a questão do ensino aprendizagem, no caso dessa pesquisa, o ensino de Projeto de Arquitetura, é na consideração deste como um sistema aberto onde os participantes (aluno e professor) possam observar a relação estabelecida entre ambos a fim de chegar a um aprendizado mútuo, onde a diferenciação entre os participantes são minimizadas e a comunicação entre os envolvidos é enaltecida, possibilitando a observação de todo o processo, e principalmente considerando a questão da circularidade, o processo que não tem fim, sempre na descoberta de uma nova questão que alimenta o sistema. Assim podemos considerar o projeto final apresentado pelo aluno como um decalque, uma representação de um instante, de inúmeras possibilidades de soluções para o problema colocado pela necessidade do projeto, assim podemos assumir o processo de projeto como sistema rizomático, e aqui usamos como referência a Teoria do Rizoma de Deleuze Guattari para justificar esse processo de constante reflexão que é o ato de projetar.

Assim, esse artigo tem como principal objetivo articular esses conceitos de forma a introduzir uma metodologia de projeto vinculada aos novos meios digitais, proporcionando aos alunos a coexistências das tecnologias usadas no dia a dia na construção do seu próprio método de projeto, um processo em constante transformação. Essa pesquisa inicial de conceitos e a relação com o processo de projeto em Arquitetura tem como propósito à futura aplicação dentro da sala de aula, de modo a verificar a potencialidade desse método no ensino.

A metodologia que será usada para o desenvolvimento desse trabalho consiste em uma revisão bibliográfica sobre o panorama geral do uso das novas tecnologias, sobre o processo rizomático de projetar, usando a Teoria do Rizoma de Deleuze e Guattari, sobre a pedagogia de Paulo Freire e sobre as novas tecnologias usadas no ensino de projeto e a definição de parâmetros para a possível aplicação desses conceitos em sala de aula. Na etapa em que a pesquisa se encontra já foram realizadas as seguintes etapas: revisão bibliográfica; relações entre os conceitos levantados de modo a compreender a relação entre eles; definição de parâmetros para aplicação da teoria na disciplina de Projeto de Arquitetura, em cursos que ainda se pautam em métodos tradicionais de ensino, com a intenção de possibilitar a coexistência de outras linguagens dentro das salas de aula, sem a exclusão de métodos tradicionais, mas a incorporação destes aliados aos avanços tecnológicos.

Os resultados pretendidos com essa pesquisa consistem na construção de uma base teórica que sustente o uso das novas tecnologias em sala de aula de forma construtiva proporcionando a coexistências entre os diversos métodos de representação e criação na Arquitetura.

A possibilidade de usar as novas tecnologias em favor de um ensino contextualizado, participativo e construtivo passa a ser uma ferramenta para promover coexistência entre os diversos alunos inseridos em distintas realidades e do professor, melhorando assim a comunicação entre todos e criando outras linguagens dentro dos ateliês de arquitetura. A possibilidade de incorporar a realidade cotidiana dos alunos dentro do ensino de Projeto, pode ser um fator de extrema relevância no despertar dos alunos para a construção dos seus próprios métodos de projeto, a não imposição e sim ao respeito ao meio que o aluno escolher para criar e realizar o seu projeto, de forma integrada com os requisitos da disciplina e das propostas projetuais apresentados pelos professores. Um processo rizomático por definição, as inúmeras possibilidades de interações, de representações e um processo em constante mutação, até a definição de uma solução que para aquele determinado momento possa ser cogitada como a mais cabível.

Com o olhar para a nossa realidade onde a interface da comunicação está associada às novas tecnologias, em especial os notebooks, smartphones constantemente conectados à internet, cabe aos professores mediar o conhecimento através ou com a ajuda desses dispositivos, criar situações onde a pesquisa do novo conhecimento se aproprie desse novo contexto.


Keywords


cibernética; coexistência; projeto; tecnologia; rizoma

References


DELEUZE, G., GUATTARI, F. Mil Platôs - Capitalismo e Esquizofrenia. Ed. 34. Rio de Janeiro, 1997.

FREIRE, P. Educação como Prática de Liberdade. 1. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1967.

GLANVILLE, R. The purpose of Second Order Cybernetics. In: Kybernetes. Vol.33 nº 9/10:pp.1379-1386. 2004. Disponível em: < http://www.mudarchitecture.com/587/> Acesso em:Jun. 2014.

MIYASAKA, E. L. RE: VISÃO. Dissertação (Mestrado em Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18142/tde-21062011-100129/>. Acesso em: jun. 2014.

PANGARO, P. Cybernetics the discipline, not the hype: its history and application. 1993. Disponível em: <http://www.pangaro.com/proposals/wired-reject-v2.html> Acesso em: jun. 2014.

PASK, G. The architectural relevance of cybernetics. IN: Architectural Design. Londres. Setembro 1969.

SCOTT, B. Second-order cybernetics: an historical introduction. In: Kybernetes. MCB University Press, Vol. 33, No. 9/10. 2004.


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