INTRODUÇÃO

O Building Information Modeling (BIM) ao potencializar o fluxo das informações do edifício, pode auxiliar no incremento da produtividade na construção civil. As ferramentas aprimoradas de visualização e compatibilização de sistemas prediais atreladas ao BIM podem contribuir com soluções que levem a redução de erros de projeto, que resultam em erros construtivos e retrabalhos. Apesar desse potencial, o BIM tem sido implementado no Brasil de forma lenta e, algumas vezes, resultando em ganhos reduzidos de produtividade.

Uma breve análise comparativa da realidade brasileira, por exemplo, revela fatores que têm travado a implementação do BIM, como a falta de capacitação dos projetistas, a dificuldade em mudar os processos tradicionais de projeto e como a informação chega ao canteiro de obras. Tradicionalmente a informação chega ao canteiro de obras por meio de plantas impressas. Essas além de conterem informações abstratas, muitas vezes, difíceis de entender, ainda são incompletas, factíveis de erros e difíceis de serem alteradas. Mesmo ao se trabalhar com modelos BIM complexos e ricos de informação, ao transformar a documentação em plantas, cortes e fachadas, muitas das informações “penduradas” no modelo BIM se “perdem”.

No modelo BIM é possível armazenaras informações acerca dos componentes da construção (Goes e Santos, 2011). O processo de modelagem em softwares de autoria BIM, por ser mais complexo e preciso, acaba por demandar mais tempo, porém, o modelo gerado contém uma riqueza de informações que outrora eram distribuídos em vários desenhos bidimensionais de projetos de hidráulica, estrutura, elétrica, etc. A unificação dos projetos em um modelo único permite a identificação e solução de conflitos durante o próprio processo de modelagem, além de melhorar a qualidade da informação do edifício.

Apesar de apresentar maior coerência e qualidade da informação em relação aos métodos de CAD (Computer Aided Drafting) tradicionais, os desenhos gerados a partir do modelo BIM para uso na obra ainda são abstrações simbólicas bidimensionais, que desperdiçam parte da riqueza de informações do modelo BIM.

Uma forma “barata” de melhorar o fluxo da informação no canteiro de obras é através do uso de dispositivos móveis (smartphones e tablets) para a visualização das informações dos diferentes projetos. Por meio desses dispositivos é possível visualizar em tempo real informações atualizadas e precisas sobre a obra, com toda a riqueza semântica que pode estar contida no modelo BIM, além de ser possível enviar informações para os escritórios de projeto sobre eventuais alterações necessárias no projeto e receber em tempo real as alterações sofridas no modelo BIM. Dessa forma, melhora-se o fluxo da informação no canteiro de obras, em comparação ao uso de plantas impressas, ao fornecer um modelo completo e menos ‘abstrato’ do edifício.

Com o uso de novas ferramentas de visualização digital do edifício facilita-se a compreensão do projeto no canteiro de obras. As ferramentas de visualização que utilizam modelos BIM, além de permitirem a extração de informações geradas e a gestão de projeto, permitem também, que outros envolvidos possam acompanhar o seu desenvolvimento de várias formas.

Assim, é possível aumentar o número de envolvidos com a visualização, principalmente em dispositivos móveis, dado as facilidades de acesso, manuseio intuitivo e o desempenho dos softwares para essa plataforma.

É dentro desse contexto que esse artigo se insere. O objetivo é mostrar um estudo comparativo, que vem sendo feito numa pesquisa de Iniciação Científica, sobre os principais softwares de visualização do modelo do edifício para smartphones e tablets factíveis de serem usados nos canteiros de obras.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O ponto de partida foi a identificação dos principais aplicativos de visualização do modelo do edifício para smartphones e tablets disponíveis no mercado para plataforma iOS e Android. Para isso, foi feita uma classificação das ferramentas existentes em: aplicativos de visualização 2D/3D e aplicativos de realidade aumentada. Dentro desse primeiro grupo foram identificados os seguintes aplicativos: AutoCAD 360, iRhino 360 e Sketchup Mobile Viewer, Graphisoft BIMx, Autodesk Formit, TeklaBIMsight, Trimble ProjectSight e Navigator Mobile. Os aplicativos de realidade aumentada estudados foram: AR-Player, AugmentedDev e Shimmer.

Dentro da categoria de aplicativos de visualização buscou-se identificar quais deles incorporavam simplesmente a geometria do modelo e quais deles representavam o Protótipo Virtual do edifício, por meio do Modelo BIM. Para esses últimos procurou-se identificar se as informações geradas no modelo BIM podem ser efetivamente extraídas no canteiro de obras, por meio de smartphones e/ou tablets. Além do mais, busca-se identificar se as informações oriundas desses dispositivos são efetivamente úteis para serem utilizadas no canteiro de obra, como é especulado neste trabalho, ou se a simples utilização de um modelo geométrico pode fornecer as informações necessárias e suficientes de projeto. Também buscou-se identificar como se dá o fluxo da informação nos aplicativos em estudo, se unidirecional ou bidirecional e se as atualizações do modelo são automática ou não. Por fim, buscou-se especular se esses aplicativos (sejam de visualização e/ou de realidade aumentada) podem substituir (parcial ou completamente) o papel impresso nos canteiros de obras da construção civil brasileira.

Os aplicativos de visualização, que incorporam o Modelo BIM são aqueles que agregam em um modelo único informações relacionadas aos vários sistemas do edifício, de modo a permitir a visualização isolada de cada sistema, bem como, a sua contextualização e compatibilizada com os demais sistemas. Dessa forma, é possível filtrar a informação de acordo com as áreas de interesse de cada envolvido no projeto. Essa característica permite, por exemplo, que o responsável técnico de hidráulica analise o projeto de tubulações isoladamente com a opção de ver sua relação e conflitos existentes com o projeto de alvenaria. Esse mesmo modelo permite gerar outros filtros, bem como, a geração imediata de novos cortes e visualizações tridimensionais.

Já os aplicativos de realidade aumentada oferecem um novo modo de visualizar o edifício, por meio de simulações menos abstratas que aquelas presentes na planta impressa. É possível criar a ilusão da construção real, contextualizada com o espaço físico do canteiro de obras, por meio de um modelo tridimensional a ser projetado no dispositivo móvel.

Esses Aplicativos estão sendo testados e classificados de acordo com as características da tecnologia utilizada, plataformas suportadas, tipos de licença, qualidade da informação apresentada, fluxo da informação, capacidade de atualização do modelo, possibilidade de sincronização da informação, facilidade de uso da informação no canteiro de obra, custo de implementação, entre outros fatores.

O produto final do artigo é um quadro comparativo e sugestivo dos principais aplicativos para smartphones e tablets para visualização de informação de projeto nos canteiros de obra, servido, portanto, de base para decisões relacionadas à implementação BIM e revisão da forma de disposição da informação de projeto no canteiro de obras.

Embora seja fundamental o estudo prático do uso desses aplicativos nos canteiros de obras, o trabalho a ser apresentado neste artigo se limitará a uma análise comparativa da viabilidade do uso desses aplicativos no canteiro de obras, a partir do conhecimento das características de funcionamento dos mesmos. Não serão, portanto, apresentados os resultados dos estudos da implantação desses aplicativos no canteiro de obras, haja vista, essa pesquisa ainda estar em estágio inicial.

DISCUSSÃO

Acredita-se que a permanência da informação no meio digital, mesmo durante a fase executiva da obra propicia um melhor aproveitamento das informações do modelo BIM, permitindo a extração completa e precisa da informação do edifício, sem a necessidade de uso de desenhos abstratos, imprecisos e com “pouca inteligência” (as alterações no projeto não são atualizadas no papel impresso), além de evitar os gastos corriqueiros de impressão de desenhos dos projetos.

O emprego de dispositivos móveis tem como grande vantagem em relação às plantas impressas ou monitores fixos a mobilidade de locomoção no canteiro e o baixo custo de investimento (em longo prazo). Além do mais, a mobilidade de dados possibilitada por esses aparelhos, que são capazes de sincronizar e atualizar informações projetuais através da internet (AMARAL, 2012) pode, efetivamente melhorando o fluxo de informações entre o escritório de projeto e melhorar a qualidade da informação no canteiro de obras. Mas, para isso, a identificação dos principais aplicativos existentes no mercado, o conhecimento dos seus potenciais e suas características deve ser o primeiro passo de um processo de substituição e/ou complementação dos desenhos impressos no canteiro de obras por informações digitais oriundos de aplicativos para smartphones e tablets.