INTRODUÇÃO

A alteração de metodologias de desenho arquitetônico baseadas em CAD para uma metodologia baseada em BIM alterou de um sistema que simulava o desenho a mão através do uso de elementos gráficos bidimensionais auxiliados por computador para outro que simula o processo de construção com elementos gráficos tridimensionais com diferentes tipos de informações construtivas, onde estes elementos deixaram de ser um conjunto de linhas para serem modelos tridimensionais de elementos construtivos. (GRABOWSKI, 2000)

Essa tridimensionalidade é representada por um sistema BIM, que mantém um banco de dados onde exibe a geometria dos elementos construtivos em três dimensões e armazena seus atributos, transmitindo mais informações que os modelos CAD tradicionais. Além disto, como os elementos são paramétricos, é possível alterá-los e obter atualizações em tempo real em todo o projeto (FLORIO, 2007).

Os modelos BIM como uma simulação digital tridimensional da edificação a ser construída podem ter enfoques distintos quanto a complexidade ou nível de detalhes das informações que contém, entretanto, quando este modelo passa a ser usado para extração de desenhos bidimensionais em papel, muitas das suas possibilidades de visualização são deixadas de lado.

Neste sentido, segundo Levy (1996): “Considerar o computador apenas como um instrumento a mais para produzir textos, sons ou imagens sobre suporte fixo equivale a negar sua fecundidade propriamente cultural, ou seja, o aparecimento de novos gêneros ligados à interatividade” (p. 41). Para o mesmo autor “o termo “interatividade” em geral ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação” (Levy, 1999, p. 79)

Desta forma, se considera importante que a utilização dos modelos BIM ultrapasse a geração de desenhos bidimensionais ou tabelas apoiando-se no uso de tablets e em aplicativos específicos para este tipo de modelo. Sendo assim, a pergunta que gerou o presente estudo foi: Quais são as possibilidades de visualização interativa de um modelo BIM através da utilização de aplicativos gratuitos?

Para responder tal questionamento, o estudo teve como objetivo principal: verificar as possibilidades de visualização interativa dos modelos BIM por meio do uso de tablets a partir da comparação de três aplicativos de uso livre: BIM+ Explorer, BIM 360 GLUE e BIMx.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia escolhida para a comparação tomou como base o estudo realizado por Catani et al (2007). Este estudo tinha como problema de pesquisa: identificar qual ferramenta do software AutoCAD era mais viável para modelagem tridimensional: o Arqui_3D ou AutoCAD 3D. Para isto o estudo, através da geração de modelos tridimensionais de duas edificações, comparou os resultados obtidos com o uso do Arqui_3D e do AutoCAD 3D. Tal comparação levou em conta os seguintes critérios: velocidade de representação dos modelos tridimensionais; dificuldade de manipulação dos modelos representados; e tamanho final do arquivo. Esta metodologia e os três critérios foram então adequados aos tipos de aplicativos que o presente estudo tinha como objetivo compar.

Neste sentido, o item referente a arquivos, no qual a metodologia tomada como referencia adotou como variável de comparação a quantidade de informação contida no arquivo, definida pela estudo como o tamanho do arquivo, no presente estudo a variável de comparação foi adequada para tipos de arquivos que os aplicativos são capazes de realizar a visualização.

O item referente a dificuldade de manipulação dos modelos representados foi adequado para usabilidade das ferramentas do aplicativo, o qual levou em consideração a dificuldade ou facilidade de manipulação das ferramentas presentes nos aplicativos comparados.

Para o terceiro critério, velocidade de desenvolvimento, que dizia respeito a principal função dos software comparados por Catani et al (2007), ou seja, desenvolvimento da modelagem tridimensional, o presente estudo adequou o critério também para principal função dos aplicativos comprados, ou seja, possibilidades de visualização e interação.

Com isto a comparação proposta pelo presente estudo ficou definida pelos seguintes critérios: tipos de arquivo, usabilidade das ferramentas disponíveis, e possibilidades de visualização e interação com o modelo BIM.

Para a escolha dos aplicativos a serem comparados inicialmente fez-se um levantamento que visava apontar onde estes aplicativos poderiam ser encontrados, em quais ‘lojas’ de aplicativos e para quais dispositivos (smartphones, tablets). Isso porque dependendo do sistema operacional, bem como da sua versão, o aplicativo pode ou não ser disponibilizado.

Neste levantamento constatou-se que a loja de aplicativos para o sistema operacional Android, a Google Play, disponibiliza apenas o aplicativo BIMx, da Graphisoft, inviabilizando a realização de qualquer comparação. Devido a isto, neste momento, foi desconsiderada a possibilidade de investigar os aplicativos para o referido sistema operacional.

No levantamento de aplicativos para o sistema operacional iOS (6, 7 e 8), realizado no site da loja da Apple, a AppStore, que disponibiliza aplicativos para iPhone e iPads, foram encontramos diferentes aplicativos associados ao termo BIM, dos quais foram selecionados três adequados ao objetivo da pesquisa, que são: BIM+ Explorer, BIM 360 GLUE e BIMx.

Nos quais foram comparadas as variáveis definidas anteriormente, que são: os tipos de arquivo, a usabilidade das ferramentas disponíveis e as possibilidades de visualização e interação com o modelo.

RESULTADOS

Na análise inicial dos aplicativos selecionados para a realização do estudo, estes demonstraram as seguintes características:

- BIM+ Explorer: quantidade de informação que contém o aplicativo 44,7 MB, versão mais atual 2.4.13, desenvolvedor Nemetschek, possibilidade de idiomas do aplicativo inglês e alemão;

- BIMx: quantidade de informação que contém o aplicativo 23,2 MB, versão mais atual 3.6.2300, desenvolvedor Graphisoft, possibilidade de idiomas do aplicativo inglês, chinês, checo, finlandês, francês, alemão, grego, húngaro, italiano, japonês, coreano, polonês, português, russo, espanhol, turco;

- BIM 360 GLUE: quantidade de informação que contém o aplicativo 63 MB, versão mais atual 3.1, desenvolvedor Autodesk, possibilidade de idioma do aplicativo inglês.

Após esta análise se iniciou a verificação relacionada à comparação desejada pelo estudo. Nesta verificação no item referente aos tipos de arquivos possíveis de serem visualizados nos aplicativos verificou-se que no aplicativo BIM+ Explorer é possível realizar a visualização de modelos BIM desenvolvidos ou exportados na extensão IFC ou SKP; no aplicativo BIMx apenas o arquivo exportado pelo software de modelagem BIM – ArchiCAD que gera um arquivo com extensão BIMX; e no que se refere ao aplicativo BIM 360 GLUE os modelos que podem ser visualizados são os .DWG, .DWF, .DWFx, .DXF, .3DS, .FBX, IGES, .STEP, .DGN e .IFC.

No critério de comparação referente à usabilidade das ferramentas do aplicativo, o qual levou em consideração a dificuldade ou facilidade de manipulação das ferramentas presentes nos aplicativos comparados, verificou-se que:

- no aplicativo BIM+ Explorer: as ferramentas além de estarem bem posicionadas na parte inferior da tela possuem descrição da sua funcionalidade na parte inferior do ícone gráfico. Além disto, é possível de maneira simples criar vistas (camera views) e organizar uma apresentação sequencial das visualizações das câmeras;

- no aplicativo BIMx: são poucas as ferramentas disponibilizadas na tela principal pois o aplicativo prioriza mais com a visualização do modelo tridimensional com variantes no estilo de sombreamento e projeções ortogonal-cônica;

- no aplicativo BIM 360 GLUE: as ferramentas também são bem posicionadas na parte inferior da tela e apesar de não possuírem uma descrição textual da função de cada ícone na parte inferior oferece uma tela de ajuda com o indicativo de cada função interativamente.

Na verificação quanto as possibilidades de visualização e interação com o modelo BIM em cada aplicativo, se constatou que:

- no aplicativo BIM+ Explorer: existe possibilidade de interação com plano de corte nos eixos X, Y e Z, possibilidade de visualização imersiva com link especifico, não possui visualização no estilo slideshow, não existe a possibilidade de mesclar o modelo tridimensional com as plantas técnicas, e o modelo não exibe vistas salvas previamente;

- no aplicativo BIMx: existe possibilidade de interação com plano de corte no eixos Z, possibilidade de visualização imersiva com ferramenta zoom, não possui visualização no estilo slideshow, existe a possibilidade de mesclar o modelo tridimensional com as plantas técnicas e o modelo exibe vistas salvas previamente;

- no aplicativo BIM 360 GLUE: não há possibilidade de interação com plano de corte, mas há a de visualização imersiva, possui visualização no estilo slideshow, não existe a possibilidade de mesclar o modelo tridimensional com as plantas técnicas e o modelo exibe vistas salvas previamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as verificações realizadas pelo estudo das ferramentas disponibilizadas pelos aplicativos comparados se pode constatar que o aplicativo BIM+ Explorer oferece melhores condições gerais de usabilidade e ferramentas mais abrangentes para visualização e interação tanto para um uso em obra quanto para com clientes. Entretanto os aplicativos BIMx e BIM 360 GLUE oferecem recursos que ampliam o potencial de utilização da visualização interativa. Isto porque, o no caso do BIMx, a visualização se adapta mais ao canteiro de obras por oferecer uma troca entre os desenhos bidimensionais e o modelo tridimensional, totalmente intercambiáveis e interativos uns com os outros além de poder ser visualizado pelos clientes em smartphones com sistema Android ou iOS. E no caso do BIM 360 GLUE principalmente por contar com a extensa gama de arquivos possíveis de serem visualizados, que podem ser gerados em software de diferentes aplicações, o que aumenta as possibilidades em um projetos de maior complexidade interdisciplinar.