Introdução

As tecnologias da Informação e Comunicação tem trazido uma ampla gama de possibilidades para qualificar o processo de ensino de projeto de Arquitetura e Design de forma nunca antes imaginada.

O almejado planejamento, aquele que se aproxima mais do domínio de todos os aspectos que envolvem a futura obra construída, consiste em uma realidade possível e concreta. Atualmente, existem tecnologias que permitem este planejamento mais qualificado, tais como Sistemas BIM (Building Information Modelling), Simuladores de performance (lumínica, energética, estrutural, etc.), sistemas paramétricos e algorítmicos de geração de formas, Prototipagem Rápida / Fabricação Digital que vão muito além dos tradicionais Sistemas CAD na ajuda ao processo de projeto.

Constata-se que este contexto de avanço tecnológico em Arquitetura e Design, no Brasil, estão presentes em poucas iniciativas de pesquisa e de mercado (Oliveira & xxxx, 2011, Pupo, 2008).

Evidencia-se, assim, que o processo de projeto de arquitetura e Design tem mudado de forma muito rápida e complexa o que traz a necessidade de maior integração destas tecnologias no ensino de projeto e consequentemente de apoio aos professores para que possam se atualizar e contribuir para uma prática de atelier mais inovadora e integrada.

Entretanto, em um país extenso como o Brasil ao analisarmos a realidade de seus cursos de Arquitetura e Urbanismo (AU), verifica-se, segundo o Ministério da Educação e Cultura (MEC) em 2011, existem 224 cursos cadastrados e distribuídos ao longo do território brasileiro configurando-se em altíssima concentração de cursos na região sudeste, concentração alta na região sul, mediana nas regiões nordeste e centro-oeste e baixa concentração na região norte. Ao verificarmos o IGC (Índice Geral de Cursos) identificamos disparidade no grau de qualificação das Instituições de Ensino Superior (IES), principalmente da Região Norte (com índices entre 3 e 2) em relação ao restante do país (que apresentam índices entre 4 e 5), e seguramente das IES privadas que apresentam índices inferiores em relação às Universidades Federais e Estaduais. Ou seja, existe restrição de acesso à educação de qualidade reconhecida em diversas áreas do país e este é o contexto de muitos alunos e professores de AU. A influência deste contexto afeta em muito a situação do Brasil em termos de qualidade de vida e competitividade.

Assim temos o problema de atualização de professores em relação a integração das tecnologias no ensino de projeto de arquitetura de forma geral e o problema de um Brasil extenso com cursos de AU mal distribuídos e de qualidade diferenciada.

O projeto de pesquisa <retirado para não ser identificado> propõe “Disponibilizar um ambiente virtual aberto de aprendizagem que disponibiliza e aponta conteúdos educacionais digitais que apoiem o PROJETO DE ARQUITETURA E DESIGN MEDIADO PELAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇAO E COMUNICAÇAO”. Este artigo expõem parte desta pesquisa onde as estratégias de ensino e aprendizagem de projeto são identificadas em um curso de Arquitetura e cruzadas com as possibilidades tecnológicas de forma a sistematizar uma proposta online que une Objetivos, Métodos, Técnicas, Ferramentas e Objetos de Aprendizagem de forma a apoiar professores e alunos a incorporar meios mais avançados na cognição do ato de projetar.

Método

O método de Pesquisa Baseada em Design (DIX,2007 adaptado por Mülbert,2014) foi aplicado por se assemelhar ao próprio processo de projeto. Em um primeiro momento, integrou-se exploração fundamentada com o reconhecimento de um Contexto específico e de Fatores de Interação que coloca a mídia presente na relação professor-estudante-projeto. Em um segundo momento, desenvolveu-se um ciclo de prática para poder formular uma proposta de introdução das tecnologias nas diversas fases de ensino de projeto.

Este método passa de uma fase não estruturada e exploratória para uma fase mais estruturada e confirmatória.

Resultados

A exploração fundamentada abrangeu quatro (4) momentos que resultou em:

-    a identificação do problema que consiste na falta de apoio aos professores de atelier de projeto de arquitetura em relação a evolução tecnológica capaz de dar ao processo de projeto uma qualidade maior e a limitação, de variadas naturezas, na absorção destas tecnologias em suas práticas didáticas;

-    a revisão da literatura sobre métodos de projeto de arquitetura de forma geral e incluindo as tecnologias;

-    a formulação de questões de pesquisa que consistiu em “Como inserir as tecnologias nos métodos e estratégias de ensino de projeto em ateliers?” e  “Como apoiar professores e alunos de projeto independente de situação geográfica?"

-    o desenvolvimento de um modelo hipotético que consiste em um sistema que suporte, de forma colaborativa (em rede), a construção e a identificação de objetos de ensino e aprendizagem sobre a tecnologia no projeto para apoiar as diversas facetas da cognição do ato de projetar em Arquitetura e Design.

A fase de Prenúncio consistiu em dois (2) momentos que originou os seguintes resultados:

-    reconhecimento do contexto e seus fatores ambientais onde houve o delineamento do padrão das disciplinas de projeto que se encontram dentro de um curso de arquitetura e urbanismo em uma Universidade Pública Federal.

-    reconhecimento da relação professor-estudante-mídia que mostra-se bastante incipiente, com raras exceções. Foram feitas pesquisas específicas em um curso de Arquitetura junto aos professores de projeto buscando identificar a experiência destes com as tecnologias em geral e de projeto; a prática de introdução destas no ensino de projeto; suas opiniões sobre sites colaborativos; entre outros.

A fase de Processamento desenvolveu-se com o primeiro ciclo de prática buscando processos inovadores de aprendizagem e suporte. Esta fase resultou na identificação dos métodos e estratégias utilizados pelos professores através da visão do estudante, conseguindo-se traçar o panorama das disciplinas de projeto do curso inteiro. Pode-se classificar seus métodos e estratégias em Fases Iniciais, Intermediárias e Finais. A partir dos métodos e estratégias identificadas buscou-se tecnologias que se adequariam ao contexto de uso .

A fase do Produto resultou  do cruzamento dos métodos e estratégias com as tecnologias sistematizando-se uma proposta de unidades de aprendizagem que reúne Objetivos, Métodos, Técnicas, Ferramentas com apontamentos para Objetos de Aprendizagem existentes ou que devem ser construídos para apoiar professores e alunos a incorporar meios tecnológicos mais avançados nas diversas fases de ensino de projeto.

Discussão

O resultado alcançado alimenta novos ciclos de prática para que o produto gerado possa ser desenvolvido dentro da linguagem da EaD para ser testado em situação real, visando contribuir para que todos os professores, independente  de estarem ou não afastados dos grandes centros, tenham a mão recursos de aprendizagem que os ajude a integrar a tecnologia no processo de ensino de projeto de Arquitetura.

A problemática da falta de suporte aos professores de projeto traz a discussão sobre a mudança do papel destes nos ateliers das escolas de Arquitetura. A tecnologia evolui de forma acelerada sendo difícil o seu domínio de forma plena. Sabe-se, todavia, que estas trazem qualidade ao processo de projeto, fato que ao ser ignorado pode ser encarado como uma irresponsabilidade social do arquiteto. Assim, questiona-se o papel dos professores de atelier como detentor do saber ao invés de provocador do saber que conjuntamente com seus alunos busquem formas de aprendizado que inclua os recursos tecnológicos de modelagem, parametrização, materialização e simulação para garantir um processo de projeto mais consciente e de qualidade.