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Laboratórios Experimentais de Mídia e Tecnologia: Tipologias e Hibridações
Last modified: 2015-08-27
Abstract
1. INTRODUÇÃONesse artigo apresentaremos os laboratórios experimentais de mídia e tecnologia como promotores de abordagens colaborativas, abertas e transdisciplinares, de exploração e investigação. Tais espaços, dotados de uma infraestrutura dinâmica (Eriksson, 2011) técnica e social, surgem como um fenômeno emergente frente a um contexto global cada vez mais mediado pelas tecnologias digitais e por novos paradigmas criativos e produtivos. Abrem, assim, outras oportunidades e possibilidades para a produção de conhecimento e desenvolvimento de projetos colaborativos que transpassam diferentes áreas - comunicação, computação, arte, design, arquitetura, entre inúmeras outras. Atualmente, tais laboratórios experimentais (também frequentemente referidos como media labs) podem ser classificados nas mais diversas categorias - devido às diferentes formas de organização, financiamento, escala, intenções e backgrounds específicos de cada iniciativa - possibilitando assim análises teórico-conceituais de modelos e proposição de cenários. Dentre essas categorias podemos destacar os laboratórios educacionais, laboratórios empresariais, fab labs, hackerspaces e uma série de outros coletivos e comunidades (Langendijk e Schep, 2012) que, de alguma maneira, se aproximam dos arranjos característicos de uma imagem contemporânea de laboratório (Fonseca, 2014), sejam eles fixos e permanentes ou mesmo nômades e temporários. Em nosso estudo abordaremos essencialmente duas tipologias de laboratórios: o educacional - estabelecidos por instituições de ensino formais ou fortemente conectados a elas - e o hackerspace - modelo de laboratório comunitário, de iniciativa grassroots, vinculado à cultura hacker. A partir dessa reflexão e à luz de uma experiência empírica em andamento, sugerimos um modelo simbiótico de parceria entre dois laboratórios experimentais de mídia e tecnologia de caráter distinto, propondo a efetivação de um espaço aberto colaborativo dentro do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade XXX.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSPara os fins do presente artigo, a pesquisa aliará estudos teóricos a uma abordagem prática baseada em uma experiência empírica em andamento. Dada a atualidade do fenômeno tratado, estruturaremos nossa investigação a partir da aliança entre a parceria desenvolvida com o hackerspace XXX e uma revisão bibliográfica centrada em fontes recentes - especialmente material online, publicações no formato de relatórios, teses, dissertações e artigos científicos. Analisaremos os laboratórios experimentais de mídia e tecnologia a partir da identificação de duas tipologias particularmente relevantes para o nosso estudo: os laboratórios educacionais e os hackerspaces. Partindo desse referencial analítico, procuraremos identificar similaridades e divergências, especulando possibilidades de hibridação desses modelos dentro de um contexto institucional universitário.
3. RESULTADOSDesta forma, o presente artigo se propõe a apresentar um modelo simbiótico que engloba tanto a iniciativa educacional como o hackerspace, propondo a efetivação de um espaço aberto colaborativo ou seja, um espaço/interface entre dois diferentes laboratórios dentro do contexto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade XXX.
4. DISCUSSÃO
4.1. LABORATÓRIOS EXPERIMENTAIS DE MÍDIA E TECNOLOGIAA imagem contemporânea de laboratório (Fonseca, 2014) atualmente articula diferentes formações que, de maneira geral, buscam a exploração e a investigação através de abordagens colaborativas, abertas e transdisciplinares. Dentre elas, muitas se baseiam nas possibilidades abertas pelas tecnologias digitais, e passam assim a fazer referência a variadas denominações abarcadas por esse imagem, tais como: laboratórios de mídia, laboratórios de arte e tecnologia, media labs, fab labs, hacklabs, hackerspaces, entre outras. À primeira vista tais laboratórios experimentais parecem estar envolvidos essencialmente em experiências criativas e inovadoras com computadores e novas tecnologias. No entanto, sua verdadeira força reside em sua capacidade de criar conexões com outros campos (Schep, Ekker, Devreese, Verkade, & van de Weerd, 2012). Tais espaços buscam oferecer respostas às complexas necessidades de uma sociedade da informação, podendo ser consideradas desde perspectivas políticas, sociais, culturais e educacionais (LABtoLAB, 2010).
4.1.1. LABORATÓRIOS EDUCACIONAISTratam-se de arranjos laboratoriais situados no interior de instituições de ensino formais ou fortemente conectados a elas, abrigando linhas de estudo mais objetivas e frequentemente contando com financiamento e incentivos de pesquisa. Devido às intenções específicas educacionais dessa tipologia, a preocupação com o ensino e a produção do conhecimento científico anda lado a lado com a exploração colaborativa típica dos laboratórios experimentais. Nesse sentido, é facilmente identificada uma maior estruturação em seus processos de trabalho e no compartilhamento de seus resultados. Cabe ressaltar que o próprio termo “media lab” foi cunhado em 1985, através da fundação daquele que é o mais reconhecido laboratório de mídia e tecnologia do mundo, o MIT Media Lab, que funciona ainda hoje como parte da School of Architecture and Planning do Massachusetts Institute of Technology. Como aponta Sulopuisto (2014), devido a sua influência internacional o MIT Media Lab, tornou-se o referencial com o qual todos media labs são de alguma forma comparados, particulamente aqueles vinculados a instituições universitárias. Porém, nos últimos anos a denominação tornou-se bastante flexíviel e adaptável à realidade de cada instituição envolvendo organizações com características e programas muito distintos.
4.1.2. HACKERSPACESOs primeiros hackerspaces em configurações semelhantes àquelas que conhecemos hoje, sugiram na Alemanha na década de 1990 se desenvolvendo sob a influência da esfera libertária da associação de hackers Chaos Computer Club. Em poucos anos se espalharam pela Europa, quando em 2007, o modelo dos hackerspaces europeus foi importado para os Estados Unidos ganhando força e popularidade. Hoje o hackerspace movement possui um alcance global, com muitos laboratórios independentes em diversos países (Pettis, Schneeweisz, & Ohlig, 2011). No Brasil o primeiro hackerspace foi fundado em 2010 em São Paulo e abriu caminho para a criação de dezenas de hackerspaces no país. Percebemos nas práticas e operações desses espaços um posicionamento exploratório, crítico e criativo em relação à tecnologia e sua relação com a sociedade. Ao invés de serem vistos como um meio para cumprir objetivos claros previamente definidos, hackerspaces podem ser vistos como lugares onde metas, motivações e desejos são explorados, descobertos e construídos (Eriksson, 2011).
4.2. EXPERIÊNCIA PRÁTICAEm 2012, iniciamos uma disciplina optativa do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade XXX. O objetivo foi criar um ateliê livre de projeto onde os alunos da graduação de diversos cursos pudessem de maneira prática e experimental desenvolver instalações envolvendo tecnologias interativas para intervir em espaços públicos da cidade. Essa experiência-piloto transdisciplinar se desenvolveu em um período de dois semestres letivos (2012-2 e 2013-1) e estabeleceu o início de uma parceria com o hackerspace XXX. Em troca do apoio constante à disciplina o hackerspace XXX passou a utilizar o espaço destinado às aulas, consolidando assim, simultaneamente, sua presença física e um espaço de trabalho continuado para às atividades desenvolvidas pelos estudantes.Após a conclusão do ateliê de projeto em 2013, diversas foram as atividades realizadas pelo hackerspace, desde o apoio a outras disciplinas da grade curricular do curso e a trabalhos de finais de graduação, a promoção de palestras, oficinas e projetos variados envolvendo a comunidade universitária e local.Ao fim de 2014, o primeiro momento dessa colaboração estabelecida entre o hackerspace XXX e o Departamento de Arquitetura e Urbanismo chegou ao seu fim. Com a oportunidade colocada pela abertura do edital Mais Cultura nas Universidades, uma nova fase de parceria está sendo estruturada. Nossa proposta para o edital, inserida no eixo temático “Arte e Cultura Digitais”, integrante do Plano de Cultura submetido pela Universidade XXX, propõe a efetivação de um laboratório experimental, vinculado oficialmente ao curso de Arquitetura e Urbanismo. A concretização da proposta se daria através do estabelecimento de uma rede de colaboração com outros laboratórios experimentais universitários brasileiros e, especialmente, da renovação do vínculo com o hackerspace XXX mediante a construção de um novo espaço compartilhado para abrigar as atividades de ambos - ou seja, um modelo simbiótico, um espaço/interface entre os diferentes laboratórios.
4.3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESA força dos laboratórios experimentais de mídia reside justamente na sua diversidade e variedade, tanto no que diz respeito à suas formas organizacionais como em seus tópicos de interesse. Essa diversidade aponta para alternativas aos conceitos correntes do que é a pesquisa tanto no contexto acadêmico institucional como no contexto social mais amplo.Um modelo simbiótico poderia aliar aspectos mais estruturados da tipologia de laboratório educacional aos aspectos mais livres, dinâmicos e não programados da tipologia dos hackerspaces. Dessa maneira, julgamos ser possível conceber um sistema colaborativo mais flexível e consequentemente mais adequado ao cenário de aceleradas transformações da sociedade impulsionadas pelas novas tecnologias. Tal sistema apresentaria-se como um espaço experimental onde professores, pesquisadores, estudantes, membros do hackerspace e da sociedade poderiam testar novas possibilidades de aprendizado e colaboração.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSPara os fins do presente artigo, a pesquisa aliará estudos teóricos a uma abordagem prática baseada em uma experiência empírica em andamento. Dada a atualidade do fenômeno tratado, estruturaremos nossa investigação a partir da aliança entre a parceria desenvolvida com o hackerspace XXX e uma revisão bibliográfica centrada em fontes recentes - especialmente material online, publicações no formato de relatórios, teses, dissertações e artigos científicos. Analisaremos os laboratórios experimentais de mídia e tecnologia a partir da identificação de duas tipologias particularmente relevantes para o nosso estudo: os laboratórios educacionais e os hackerspaces. Partindo desse referencial analítico, procuraremos identificar similaridades e divergências, especulando possibilidades de hibridação desses modelos dentro de um contexto institucional universitário.
3. RESULTADOSDesta forma, o presente artigo se propõe a apresentar um modelo simbiótico que engloba tanto a iniciativa educacional como o hackerspace, propondo a efetivação de um espaço aberto colaborativo ou seja, um espaço/interface entre dois diferentes laboratórios dentro do contexto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade XXX.
4. DISCUSSÃO
4.1. LABORATÓRIOS EXPERIMENTAIS DE MÍDIA E TECNOLOGIAA imagem contemporânea de laboratório (Fonseca, 2014) atualmente articula diferentes formações que, de maneira geral, buscam a exploração e a investigação através de abordagens colaborativas, abertas e transdisciplinares. Dentre elas, muitas se baseiam nas possibilidades abertas pelas tecnologias digitais, e passam assim a fazer referência a variadas denominações abarcadas por esse imagem, tais como: laboratórios de mídia, laboratórios de arte e tecnologia, media labs, fab labs, hacklabs, hackerspaces, entre outras. À primeira vista tais laboratórios experimentais parecem estar envolvidos essencialmente em experiências criativas e inovadoras com computadores e novas tecnologias. No entanto, sua verdadeira força reside em sua capacidade de criar conexões com outros campos (Schep, Ekker, Devreese, Verkade, & van de Weerd, 2012). Tais espaços buscam oferecer respostas às complexas necessidades de uma sociedade da informação, podendo ser consideradas desde perspectivas políticas, sociais, culturais e educacionais (LABtoLAB, 2010).
4.1.1. LABORATÓRIOS EDUCACIONAISTratam-se de arranjos laboratoriais situados no interior de instituições de ensino formais ou fortemente conectados a elas, abrigando linhas de estudo mais objetivas e frequentemente contando com financiamento e incentivos de pesquisa. Devido às intenções específicas educacionais dessa tipologia, a preocupação com o ensino e a produção do conhecimento científico anda lado a lado com a exploração colaborativa típica dos laboratórios experimentais. Nesse sentido, é facilmente identificada uma maior estruturação em seus processos de trabalho e no compartilhamento de seus resultados. Cabe ressaltar que o próprio termo “media lab” foi cunhado em 1985, através da fundação daquele que é o mais reconhecido laboratório de mídia e tecnologia do mundo, o MIT Media Lab, que funciona ainda hoje como parte da School of Architecture and Planning do Massachusetts Institute of Technology. Como aponta Sulopuisto (2014), devido a sua influência internacional o MIT Media Lab, tornou-se o referencial com o qual todos media labs são de alguma forma comparados, particulamente aqueles vinculados a instituições universitárias. Porém, nos últimos anos a denominação tornou-se bastante flexíviel e adaptável à realidade de cada instituição envolvendo organizações com características e programas muito distintos.
4.1.2. HACKERSPACESOs primeiros hackerspaces em configurações semelhantes àquelas que conhecemos hoje, sugiram na Alemanha na década de 1990 se desenvolvendo sob a influência da esfera libertária da associação de hackers Chaos Computer Club. Em poucos anos se espalharam pela Europa, quando em 2007, o modelo dos hackerspaces europeus foi importado para os Estados Unidos ganhando força e popularidade. Hoje o hackerspace movement possui um alcance global, com muitos laboratórios independentes em diversos países (Pettis, Schneeweisz, & Ohlig, 2011). No Brasil o primeiro hackerspace foi fundado em 2010 em São Paulo e abriu caminho para a criação de dezenas de hackerspaces no país. Percebemos nas práticas e operações desses espaços um posicionamento exploratório, crítico e criativo em relação à tecnologia e sua relação com a sociedade. Ao invés de serem vistos como um meio para cumprir objetivos claros previamente definidos, hackerspaces podem ser vistos como lugares onde metas, motivações e desejos são explorados, descobertos e construídos (Eriksson, 2011).
4.2. EXPERIÊNCIA PRÁTICAEm 2012, iniciamos uma disciplina optativa do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade XXX. O objetivo foi criar um ateliê livre de projeto onde os alunos da graduação de diversos cursos pudessem de maneira prática e experimental desenvolver instalações envolvendo tecnologias interativas para intervir em espaços públicos da cidade. Essa experiência-piloto transdisciplinar se desenvolveu em um período de dois semestres letivos (2012-2 e 2013-1) e estabeleceu o início de uma parceria com o hackerspace XXX. Em troca do apoio constante à disciplina o hackerspace XXX passou a utilizar o espaço destinado às aulas, consolidando assim, simultaneamente, sua presença física e um espaço de trabalho continuado para às atividades desenvolvidas pelos estudantes.Após a conclusão do ateliê de projeto em 2013, diversas foram as atividades realizadas pelo hackerspace, desde o apoio a outras disciplinas da grade curricular do curso e a trabalhos de finais de graduação, a promoção de palestras, oficinas e projetos variados envolvendo a comunidade universitária e local.Ao fim de 2014, o primeiro momento dessa colaboração estabelecida entre o hackerspace XXX e o Departamento de Arquitetura e Urbanismo chegou ao seu fim. Com a oportunidade colocada pela abertura do edital Mais Cultura nas Universidades, uma nova fase de parceria está sendo estruturada. Nossa proposta para o edital, inserida no eixo temático “Arte e Cultura Digitais”, integrante do Plano de Cultura submetido pela Universidade XXX, propõe a efetivação de um laboratório experimental, vinculado oficialmente ao curso de Arquitetura e Urbanismo. A concretização da proposta se daria através do estabelecimento de uma rede de colaboração com outros laboratórios experimentais universitários brasileiros e, especialmente, da renovação do vínculo com o hackerspace XXX mediante a construção de um novo espaço compartilhado para abrigar as atividades de ambos - ou seja, um modelo simbiótico, um espaço/interface entre os diferentes laboratórios.
4.3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕESA força dos laboratórios experimentais de mídia reside justamente na sua diversidade e variedade, tanto no que diz respeito à suas formas organizacionais como em seus tópicos de interesse. Essa diversidade aponta para alternativas aos conceitos correntes do que é a pesquisa tanto no contexto acadêmico institucional como no contexto social mais amplo.Um modelo simbiótico poderia aliar aspectos mais estruturados da tipologia de laboratório educacional aos aspectos mais livres, dinâmicos e não programados da tipologia dos hackerspaces. Dessa maneira, julgamos ser possível conceber um sistema colaborativo mais flexível e consequentemente mais adequado ao cenário de aceleradas transformações da sociedade impulsionadas pelas novas tecnologias. Tal sistema apresentaria-se como um espaço experimental onde professores, pesquisadores, estudantes, membros do hackerspace e da sociedade poderiam testar novas possibilidades de aprendizado e colaboração.
Keywords
laboratórios experimentais; media labs; hackerspaces; abordagens transdisciplinares; espaços colaborativos.
References
Eriksson, M. (2011). Labbet utan egenskaper (Thesis). Lund University, Division of Sociology. Retrieved from http://lup.lub.lu.se/student-papers/record/2026813Fonseca, F. S. (2014). Redelabs : laboratórios experimentais em rede (Dissertação). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP.LABtoLAB. (2010). Laboratories of the In-between. In A. Plohman & C. Butcher (Eds.), The Future of the Lab (pp. 51–58). Baltan Laboratories.Langendijk, M., & Schep, T. (Eds.). (2012). The New Explorers - Guide to Dutch Digital Culture. Virtueel Platform.Pettis, B., Schneeweisz, A. E., & Ohlig, J. (Eds.). (2011). Hackerspaces: The Beginning. Retrieved from https://archive.org/details/hackerspaces-the-beginningSchep, T., Ekker, J. P., Devreese, V., Verkade, R., & van de Weerd, R. (2012). Nederland labland: medialabs, fablabs & hackerspaces in Nederland. Virtueel Platform.Sulopuisto, O. (2014). Media Lab Helsinki 20 (1st ed.). Estonia.
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