XIX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, 

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A impressão 3D como suporte para o ensino das artes para deficientes visuais
Ana Beatriz Linardi, Vitor Damiani, Flavio Valverde Garotti, Fernado da Silva Ramos

Last modified: 2015-08-27

Abstract


1. Introdução

A preocupação com a acessibilidade trouxe à tona um grande empenho em tornar acessível, especialmente aos deficientes visuais e pessoas com a visão reduzida, o campo das artes, especialmente as artes visuais, por se constituir elas o maior desafio em relação ao que a própria definição já traduz: o visual. 
Como patrimônio cultural é de direito igualmente aos deficientes visuais o conhecimento, contato e vivência da experiência artística, e muito se tem produzido para isso e trazido à tona esse debate.
A primeira e intuitiva ação que vem nessa direção, traz o visual ao tátil. Quadros táteis ou miniaturização dos objetos artísticos tentam aproximar desse modo sensorial algo que por si não é vivenciado pelo tato, o que já levanta uma série de questões.
Da relação visual à tátil, quando se fala em tornar acessível uma obra de arte para um deficiente visual, há um grande caminho a ser percorrido.
A simples miniaturização ou transformação em 3D de um quadro ou escultura, não possibilita ao deficiente visual o propósito final de uma obra: a fruição ou melhor dizendo, sua experiência. Pode trazer a ele os elementos que compõe o quadro, o tema mas não a experiência artística.
Quando contemplamos uma obra de arte, acionamos todo um repertório visual ou uma gramática que permite decifrar esse código e apreender uma obra como obra de arte.
O deficiente que nunca enxergou, e que por isso não teve acesso à gramática da representação artística, não possui de imediato elementos de decifração desse código.
Dessa forma, oferecer ao cego a possibilidade de tatear uma obra que foi transformada por um vidente em algo chamado tátil, pode não fazer sentido algum como arte. O sentido daquela experiência acaba se constituindo primordialmente através daquilo que é dado através de outros recursos, como um texto ou narração. (Se tomarmos como exemplo uma natureza morta, cuja composição é formada por objetos que o cego tateia cotidianamente em sua casa, como uma mesa com copos, jarro e uvas, por exemplo, no que um jarro, copos e uvas se constituirão, para ele, como obra artística? Ou uma pintura abstrata, cujo movimento de linhas e massas de cores se apresentará a ele, através do tato como uma massa disforme, e uma descrição do que aquilo se constitui para um vidente).
Por outro lado, a experiência artística também não é plenamente acessível ao público em geral, visto que nosso sistema de ensino básico relega a último plano o ensino das artes e, muitas vezes o rebaixa como se fosse apenas a oportunidade de enfeitar uma escola em ocasiões festivas.
A inacessibilidade da arte não se restringe aos portadores de deficiências visuais mas ao público em geral.
Então entendemos que o acesso das artes visuais aos deficientes levanta questões no âmbito do ensino, que são questões gerais. O desafio porém é maior por não podermos contar primeiramente com as habilidades visuais.
Por outro lado entendemos que os recursos utilizados para cumprimento desse objetivo: tornar uma obra de arte acessível ao deficiente visual, traz um processo novo de ensino e aprendizado que poderá ser utilizado igualmente pelo público vidente.
Partimos do seguinte princípio: não adianta apenas apresentar uma obra de arte mas, de ensinar sobre arte, o que é arte e como se apresenta.
O Museu Casa Guilherme de Almeida em São Paulo abriga a escultura Sóror Dolorosa de Victor Brecheret (1921) baseada no Livro de horas de Sóror Dolorosa (1920) de Guilherme de Almeida, que integrou a exposição do artista na Semana de Arte Moderna de 1922. Como experiência de uma ação pedagógica no âmbito artístico, propomos, através do processo de Impressão 3D, realizar réplicas dessa escultura, que tem grande importância no acervo artístico de obras brasileiras, de forma que resulte em um produto articulado, com partes removíveis, para ensinar sobre o processo artístico da representação, do gesto expressivo, estilização e interpretação da obra, visando os deficientes visuais e, por extensão, o público em geral.


2 – Procedimentos metodológicos materiais e técnicos

A transformação do modelo real em uma réplica para fins pedagógicos obtida pelo processo de fabricação digital com uso de escaneamento 3D implica nas seguintes etapas:

2.1 Fotografias da obra de arte abrangendo sua totalidade volumétrica.

2.2 Processamento estereofotogramétrico em ambiente computacional para geração do modelo tridimensional da obra original.

2.3 Edição tridimensional do modelo virtual e recortes para articulação de encaixes e partes móveis

2.4 Impressão 3D em tecnologia FDM dos modelos articulados e da réplica da obra de arte em tamanho original.


3 – Resultados

Espera-se obter réplicas tridimensionais em ABS da escultura de Victor Brecheret , articuladas, com partes removíveis para que se ensine sobre arte a partir dos seguintes princípios:

  1. A representação do rosto humano e suas expressões

  2. A junção de elementos no que se constitui uma composição artística

  3. A estilização como recurso expressivo

  4. A soma das partes que compõem a obra

  5. O gesto artístico na modelagem que antecedeu a finalização da obra no bronze.

  6. Réplica que pode ser livremente manipulada em tamanhos diferentes e no tamanho original para oficinas e interpretações do processo de escultura.

Espera-se com isso um ação pedagógica diferente, na aproximação da obra artística, que não seja meramente uma apresentação visual ou uma experiência tátil guiada por uma legenda pré-estabelecida, que determine a experiência apenas como uma relação burocrática entre obra e texto. Mas que permita a experiência artística como uma possibilidade de compreensão da linguagem, uma construção de sentidos principalmente para o deficiente visual, que não possui de antemão um conhecimento da linguagem artística, para que possa acionar seus códigos de leitura, mas que possa ele mesmo adquirir conhecimento e criar formas de apreensão e compreensão da linguagem artística.
Ao mesmo tempo, espera-se a compreensão dos limites e possibilidades da percepção tátil e do alcance dessa metodologia de ensino das artes junto aos deficientes visuais, para que esse processo se estenda a outras obras e que constitua uma metodologia diferenciada de ensino das artes. É fundamental o estabelecimento de parâmetros para o trabalho futuro com escala reduzida de obras de grandes dimensões.
Espera-se também disponibilizar para escolas um acervo artístico que possa ser impresso e trabalhado pelos professores de artes em diferentes partes do país.


4 – Discussão

A discussão enfoca na metodologia do ensino das artes nas escolas e atividades pedagógicas em museus. Pauta-se sobretudo, na questão da acessibilidade e do direito ao deficiente visual à ampliação de repertório artístico e experiência com a linguagem artística com o uso de tecnologia de impressão 3D com significativa redução de custos e facilidade de reprodução e difusão em todo o território nacional.


Keywords


Acessibilidade, Impressão 3D, arte

References


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