XIX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, 

Font Size: 
Integração do ensino de projeto de arquitetura e de estruturas e BIM
Sanderson Carvalho Souza de Medeiros

Last modified: 2015-08-27

Abstract


Introdução

A integração entre projetos de arquitetura e estruturas, em ateliês de projeto, tem sido um dos desafios para os professores dos cursos de arquitetura e urbanismo. Alguns autores colocam que a o uso de ferramentas computacionais podem auxiliar nesses tópicos, assim como novas tecnologias, tais como BIM, têm o potencial de integração desejado. Holland et al (2012), mostram que existem hoje muitas companhias no mundo todo que estão desenvolvendo projetos utilizando processos BIM e estas têm procurado profissionais que possam efetivamente trabalhar em projetos BIM. Para atender esta demanda, muitas universidades têm implementado cursos para expor os alunos a esse novo paradigma. Entretanto, Barison e Santos (2011), afirma que essas experiências são relativamente novas e baseadas em pedagogias ainda não consolidadas. Para acompanhar as inovações, os professores e instituições têm enfrentado dificuldades na adoção de BIM. Em relação a isso, Kymmell (apud. BARISON e SANTOS, 2011) agrupa os obstáculos em três tipos: circunstâncias do ambiente acadêmico, incompreensão dos conceitos de BIM e dificuldades de aprendizagem/ utilização da ferramenta.

Este trabalho é parte de uma dissertação de mestrado que estuda a utilização de BIM como método de integração interdisciplinar e o ensino de projeto em ateliê. O objetivo é identificar e analisar qualitativamente necessidades, dificuldades e propostas na integração entre projeto de arquitetura e estruturas, por meio de BIM em ateliê de projeto na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e na UFPB (Universidade Federal da Paraíba).

Metodologia

Para chegar aos objetivos desejados a pesquisa utilizou, como instrumento de coleta de dados, entrevistas com professores. O critério para estabelecer o universo de aplicação das entrevistas foi o de que os entrevistados fossem professores nas instituições estudadas com participação direta na integração entre arquitetura e estruturas com utilização de BIM ou professor considerado experiente/ relevante para o tema, de forma que pudesse contribuir para a pesquisa com suas informações privilegiadas.

Após a fase de realização das entrevistas, a pesquisa faz uma análise do conteúdo das mesmas com base em Bardin (1977). Foram definidas duas categorias de análise: professores usuários de BIM e professores não usuários de BIM. Das cinco entrevistas, três se enquadram na primeira categoria e dois na segunda. Foram definidos os cinco componentes de estudo: questão de pesquisa; proposições de estudo; unidades de análise; lógica que une os dados às proposições; e critérios para interpretação das constatações. A partir desta definição foi possível elaborar o protocolo de entrevista com perguntas dentro das três unidades de contexto definidas pelo pesquisador, sendo elas: Forma de integração, com foco na forma de inserção da disciplina complementar de estruturas no projeto de arquitetura e nas dicifuldades geradas; Processo de projeto, com ênfase na relação do desenvolvimento e concepção do projeto e suas fases, nas ferramentas utilizadas, suas dificuldades e os produtos gerados; e Propostas, com enfoque na experiência e contribuição de propostas para o uso de BIM em ateliê de projeto integrado.

Baseado na leitura flutuante a pesquisa estabeleceu três dimensões para a execução da identificação e análise do discurso dos professores. São elas: Tecnológica, que analisa a visão dos professores em relação ao uso da tecnologia BIM nos processos de projeto da integração estudada e das questões ferramentais; Ambiental, onde analisa as relações do ambiente acadêmico da integração; e Pedagógica, que faz uma análise dos aspectos de ensino e aprendizagem.

Resultados

Segundo os dados elaborados percebe-se que a dimensão ambiental, ou seja, questões do ambiente acadêmico, foi a que obteve mais elementos em comum, principalmente no que se trata de sincronia entre professores e de planejamento. Fica claro que mesmo com todo planejamento feito, ainda é difícil manter todos os professores em sincronia, o que gera dificuldades para os alunos e retrabalho na integração dos conteúdos.

Na dimensão tecnológica, as respostas não tiveram um padrão uniforme. Variam desde as questões relacionadas às dificuldades de trabalhar com as ferramentas BIM, até a diferença cultural tecnológica entre arquitetos e engenheiros. Percebe-se que o perfil de cada professor e a participação de suas respectivas disciplinas na integração é quem da o direcionamento de suas respostas, principalmente na dimensão pedagógica, onde surgiram colocações interessantes, como a proposta de se ter quatro anos de informática aplicada à arquitetura e urbanismo (representação, BIM, GIS e Render) durante o curso que parece uma abordagem muito pertinente, considerando a importância das ferramentas digitais na atualidade.

A percepção de que os professores da categoria “não usuário de BIM” já assumem a importância da tecnologia, mesmo não a utilizando pessoalmente, mas o contato com os alunos e com a demanda que tem crescido, faz com que a cultura de resistência às novas tecnologias diminua, abrindo espaço para a evolução da implantação e das competências BIM nos ateliês de projeto estudados. Da mesma forma, tem-se uma situação oposta, onde um professor da categoria “usuário de BIM” conta com um ambiente acadêmico um pouco desfavorável, mas que consegue levantar a discussão do projeto a níveis mais avançados a partir da percepções e experiências próprias.

Discussão

Recomenda-se uma série de ações para que a implementação de BIM na UFRN e na UFPB seja mais promissora e possa aproveitar seu real potencial. Apesar de contar com o recurso humano de um professor expert, que explora abordagens tendenciosas à BIM, a instituição não oferece uma estrutura adequada. São recomendados workshops com a participação de consultores do mercado a partir de abordagens colaborativas e parcerias com universidades que implementaram a tecnologia. Além disso, recomendam-se mais aulas conceituais, pois verificou-se uma falta de entendimento dos principais conceitos BIM por parte dos alunos e professores, mesmo usuário de BIM. Deve haver uma adaptação maior no currículo, uma discussão curricular focada em BIM, pois desta forma estará se alinhando com as tendências internacionais do ensino de arquitetura, de forma que envolva disciplinas de tecnologia adicionando sistemas e gerando tecnologia de informação, através de extração de quantitativos para trabalhar custos e adicionando cronograma para trabalhar questões temporais (5D). Da mesma forma incentiva-se a abordagem de inclusão de sistemas para estudo de interferências entre estes sistemas. No ensino da ferramenta BIM, devem ser inseridos conceitos de processos para que a discussão não induza ao erro conceitual de reduzir BIM a uma ferramenta, mas a abordagem de ferramentas, processos e produtos e mais adequada.

Na implementação de BIM na UFRN ainda se trata de uma adoção inicial, de nível introdutório, que aborda a fase de projeto, com modelo de produtividade e com formação de alunos com competência de modeladores BIM, através de modelagem paramétrica, integração com estruturas e extração de quantitativos. Já são cinco anos desde 2010 formando alunos que tiveram contato com o novo paradigma, em números são 10 turmas, ou seja, aproximadamente 200 alunos, o que parece bastante significativo.

Ressalta-se a importância da gestão de informações com o uso de BIM. A má gestão da informação pode desperdiçar dados preciosos se não tiver um consumo final, assim, acredita-se que apesar de não ser necessário o professor de projeto ser usuário, ou seja, saber utilizar as ferramentas BIM, percebe-se que o fato do mesmo ter esse conhecimento, o possibilita extrair mais dados dos alunos para pesquisas ou o próprio melhoramento da disciplina, através dos modelos que podem exibir dados que os projetos plotados não oferecem, pois estão embutidos digitalmente.

Em relação à integração entre projeto de arquitetura e estruturas, a ideia de se ter uma discussão do partido estrutural parece mais importante do que as questões referentes a lançamento estrutural e pré-dimensionamento, já que a concepção é considerada a parte mais importante do trabalho do projeto de estruturas, o que separa os bons projetistas dos outros. Desta forma, incentivam-se exercícios de concepção estrutural e análise dos produtos desejados na disciplina para a definição clara do processo e da ferramenta ideal para alcançar esses produtos.

Acredita-se que foram obtidas informações refinadas nesta análise, de forma que as opiniões dos professores possam embasar o Ateliê Integrado na UFRN, assim como a integração de conteúdos na UFPB. Espera-se que o objetivo tenha sido atendido em sua plenitude e que haja uma contribuição vinda dos procedimentos explorados nesta pesquisa de forma que possa enriquecer o cenário da pesquisa BIM em universidades no Brasil.

 

 

 


Keywords


Integração;Ensino; Arquitetura; Estruturas; BIM

References


BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BARISON, M. B.; SANTOS, E. T.. Ensino de BIM: tendências atuais no cenário internacional. Gestão & tecnologia de projetos, v. 6, p. 67-80, 2011.

HOLLAND, R., J. MESSNER, J., PARFITT, K., POERSCHKE, U., PIHLAK, M., and SOLNOSKY, R. Integrated Design Courses Using BIM as Technology Platform. Proc.: The BIM-Related Academic Workshop, Salazar and Raymond issa, Washington D.C., 2010.


An account with this site is required in order to view papers. Click here to create an account.