XIX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, 

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GIS como instrumento catalisador de uma Cidade Inteligente
Fernando A. S. Almeida

Last modified: 2015-08-27

Abstract


INTRODUÇÃO

À medida que as cidades tem se tornado mais ambientes mais complexos, as relações de troca que ali se manifestam tornaram-se mais sofisticadas, de modo que em algum momento fez-se necessário estabelecer um conjunto de regras que condicionasse, pelo menos em um primeiro momento, os modos de ocupar e usar o território urbano. Não obstante, ainda que já regrada, a natureza expansiva da cidade provocaria o surgimento de novos desafios, estes subprodutos de uma cada vez mais complexa rede de trocas – redes de mobilidade saturadas, alagamentos, crises de fornecimento de energia e água, manejo ineficiente de resíduos sólidos, decadência das redes físicas urbanas, desequilíbrios microclimáticos, catástrofes naturais, entre outros.

A dinâmica destes eventos dá-se a um passo muito mais célere e intensa que a dinâmica do ferramental da gestão pública, seja este em suas leis ou em seu aparato técnico de capital humano e tecnologias, o que denota a urgência da implementação de mecanismos que permitam monitorar estes pontos críticos detalhada e sistemicamente, e que permitam sua mitigação de forma eficiente.

Em contrapartida a este cenário instável, é possível identificar várias iniciativas ao redor do mundo com o foco, por exemplo, em soluções integradas de tecnologia com a finalidade de promover avanços socioeconômicos nas cidades, e nisto destacam-se os vários conceitos acerca da chamada Smart City, ou Cidade Inteligente (CI). Embora este termo ainda não esteja perfeitamente delineado quanto a uma definição exata, é empregado em diversos países com metodologias e abordagens próprias, mas com a convergência no que se refere ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como base instrumental (HOLLANDS, 2008).

O Sistema de Informação Geográfica (SIG, ou o seu acrônimo em inglês GIS, como é mais difundido) é uma base instrumental já bem estabelecida há décadas nos meios da produção geográfica, cartográfica e de planejamento urbano e regional. Em resumo, trata-se de uma base de dados digital de múltiplas finalidades, na qual um sistema de coordenadas espaciais em comum é o meio básico de referência. Em razão de aglomerar dados oriundos de bases textuais (dados tabulares) a bases gráficas georreferenciadas (mapas, fotos aéreas e afins), consagrou-se como um sistema altamente eficaz para tomada de decisões, ao permitir uma livre manipulação destes dados por meio de pesquisas e combinações variadas, sempre amparadas por uma representação gráfica, vetorial ou raster (FOOTE e LYNCH, 1995).

Em razão da sua capacidade de integração com os mais diversos dados tabulares, o GIS tem se tornado popular no meio da gestão pública por permitir serem elaboradas várias representações gráficas de dados censitários, daí a sua ampla difusão entre órgãos que lidam com indicadores socioeconômicos. Por outro lado, a representação gráfica vetorial dos lotes urbanos em GIS tem sido cada vem mais utilizada para controle do uso e ocupação do solo, mas com foco na arrecadação tributária (RECIFE, 2009).

A partir do princípio de que cada edifício tem sua contribuição individual e mensurável no consumo de recursos (água e energia), geração de resíduos (esgoto e lixo), impacto na vizinhança (permeabilidade do solo, retenção de veículos, emissão de ruídos), este artigo busca investigar de modo preliminar como o GIS pode vir a contribuir na criação de um banco de dados integrado às concessionárias públicas e órgãos de gestão urbana para um mapeamento mais preciso das áreas de saturação e risco (aqui, por razões de limitação de escopo, serão abordados o consumo hídrico e energético, e a emissão de esgotos por lote urbanizado, mas seriam também computáveis outros fatores, tais como dimensionamento de tubulações das redes públicas, estrutura de pavimentação, rede de coleta de lixo, efeito térmico da volumetria e materiais dos edifícios, geração de fluxo de entrada e saída de veículos entre outros).

Pressupõe-se, portanto, que qualquer caminho em direção a uma Cidade Inteligente deva ter por base um banco de dados de natureza e robustez tais que permita monitorar e agir de forma mitigadora para lidar com os principais elementos críticos da cidade em prol de um sistema urbano sustentável.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para este estudo toma-se como exemplo o caso da Prefeitura do Recife, que após algumas décadas a trabalhar com uma base cartográfica desatualizada, contratou em 2006 um serviço para construção de uma base de dados contínua, a abranger uma área de cerca de 220km2 com fotos digitais aerofotogramétricas de alta definição em escala de 1:6000. A partir de então a Prefeitura deu início a uma mudança de paradigma quanto ao seu modelo operacional, aderindo maciçamente ao uso de GIS e estabelecendo novas rotinas de trocas de informação entre secretarias municipais, o que permitiu que alguns anos depois fosse implementada na internet uma ferramenta de webGIS de livre acesso público chamada E-SIG (SILVA e NEVES, 2012).

Este sistema, concebido internamente para disseminar informações georreferenciadas da administração municipal, tem como principal funcionalidade servir de base de endereçamento para todos os serviços da Prefeitura. Encontram-se bairros, quadras, lotes, arruamentos e alguns equipamentos públicos, os quais podem ser não apenas visualizados como submetidos a mecanismos de pesquisa (RECIFE, 2010).

Constatou-se, contudo, que esta ferramenta disposta na internet é pouco intuitiva, de modo que a falta de clareza da sua interface não permite transparecer o grau de riqueza dos dados que estão ali vinculados, porém subliminarmente. É apenas por meio do download desta base, também livremente disponível, que é possível manipulá-la em software adequado de GIS e observar os dados tabulares que ali se encontram mas não são facilmente aproveitáveis por meio do E-SIG. Por outro lado, vê-se possível criar novos campos tabulares para inserir dados inéditos, desde que compilados de forma criteriosa por meio dos órgãos públicos e concessionárias.

Com os dados existentes, pode-se, por exemplo, valer-se do atributo “QTDPAVIMEN” (nome de atributo arbitrário sob o qual são computados números correspondentes à quantidade de pavimentos das construções de cada lote) para gerar um mapa temático no qual são atribuídas cores de preenchimento específicas para os lotes em razão de um determinado intervalo de valores. Desta forma, pode-se ter uma apreensão bastante clara e precisa, por exemplo, das áreas com as edificações mais altas na cidade. O mesmo pode ser feito a partir do atributo “ANCONSTR” (nome de atributo arbitrário sob o qual são computados números correspondentes ao ano de construção das edificações de cada lote) e gerar um mapa temático que permita identificar as áreas da cidade com os edifícios mais antigos e potencialmente precários.

O que pretende é incrementar esta base tabular existente dos lotes (a qual consta de dados relativos ao gabarito, ao ano de construção, ao número do lote, à área total construída, ao tipo de empreendimento existente, à área do lote e ao comprimento da testada principal) com dados que poderão ser coletados junto às concessionárias de serviços públicos, especificamente para este estudo, aquelas responsáveis pelo fornecimento de água e energia, o que permitiria mapear com idêntica precisão as áreas da cidade com maior consumo energético e hídrico (e neste último caso, também a emissão de resíduos sanitários). Outros dados que podem ser facilmente levantados e incorporados à base de dados é a quantidade de vagas de veículos de cada lote, o que permitiria identificar as áreas com maior propensão a congestionamentos nas horas de pico.

A base de amostragem que será manipulada aqui será alimentada por dados extraídos de inquéritos realizados com os representantes de condomínios (no caso de edifícios de apartamentos e/ou escritórios) e responsáveis de imóveis térreos, de modo a coletar, de forma anônima porém georreferenciada, dados oriundos das contas de água e energia, assim como a quantidade de vagas de estacionamento disponíveis, em um fragmento do bairro de Boa Viagem, em Recife.

 

RESULTADOS

Por meio desta amostra pretende-se incrementar a base preexistente com a finalidade de se permitir representar um conjunto de mapas temáticos elucidativos de algumas características críticas da ocupação urbana, além de indicar outras informações que também podem ser agregadas à base tabular no intuito de ampliar o escopo do controle urbano. Espera-se que os resultados apresentados confirmem a importância do emprego do GIS para a eficácia do estabelecimento de uma base de dados de análise de desempenho urbano, o que se considera crucial mediante qualquer meta de desenvolvimento da cidade.

 

DISCUSSÃO

Este estudo pretende dar seu contributo na discussão a respeito das bases para o estabelecimento de uma Cidade Inteligente plena, a considerar que quase sempre é uma cidade preexistente que possui esta meta, mesmo que imprecisa. Procura, ainda, levantar questionamentos sobre como lançar as bases para que as TICs que caracterizarão a Cidade Inteligente não sejam eventos isolados, mas uma rede de trocas de informações fundamentada por um banco de dados integrado e consolidado, alimentado de maneira pragmática e gerido de maneira holística.


Keywords


GIS; Cidade Inteligente; Infraestrutura Urbana; Serviços Públicos; Gestão Urbana.

References


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