Last modified: 2015-08-27
Abstract
INTRODUÇÃO
A necessidade de instrumentalização, em desenho paramétrico, tendo como objetivo final a fabricação digital, pareceria ser a solução de todos os problemas para enfrentar a inovadora arquitetura contemporânea. Esta discussão relembra a que existiu há cerca de 30 anos atrás quando o desenho assistido por computador (CAM) foi introduzido na prática profissional e na academia. Mas tal como então a simples utilização de ferramentas tecnologicamente mais evoluídas não significa que a disciplina tenha absorvido a especificidade da nova tecnologia. No nível seguinte a possibilidade de automatizar o projeto para que possa responder às solicitações do meio, também não significa por si um melhor projeto. A exploração de novos métodos que promovam a qualidade, a justiça social ou sejam de vanguarda necessitam, além da instrumentalização de uma revisão metodológica do ato de projetar que faz o oficio.
Existem novos processos digitais que permitem explorar soluções paramétricas passando de uma lógica sequencial problema> projeto> construção com uma solução única. O projeto paramétrico pode permitir obter famílias de soluções utilizando novas lógicas de modelação e modificando a sequência de projeto.
Partindo destas premissas, surge a incerteza de como instrumentalizar o desenho paramétrico visando a fabricação digital e superando o discurso metódico ferramental.
Utilizar o CAD para “passar a limpo” o desenho feito a mão, não pode ser considerado uma mudança de paradigma, tal como não há mudança de paradigma quando substituímos o estilete pela máquina de corte a laser. Para haver mudança de paradigma é necessário incorporar um discurso que legitime as intervenções instrumentais. Enquanto não tivermos esse discurso legitimador estaremos, como no caso dos primiros carros a combustão, desenhando carruagens puxadas por cavalos.
A partir desta problemática surgiu a necessidade de criar um workshop fora do ambiente da disciplina como meio instrumentalizador. A procura de um discurso ou de uma narrativa legitimadora do produto é sem dúvida melhor do que opção da técnica pela técnica. Só este entendimento nos permite perceber a mudança que os novos processos e ferramentas poderão trazer para o projeto, expandindo as possibilidades anteriores.
Para suprir esta lacuna foi proposto e realizado o Workshop sobre abrigos sensíveis que vem nesta direção, no sentido de superar a necessidade do aprendizado tendo como base unicamente a instrumentalização em fabricação digital. Neste sentido o aprendizado tenta superar a fase de instrumentalização, e induzir a procura de um método conceitual.
PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
O Workshop é uma atividade anual conjunta de três laboratórios de áreas distintas. Pretende incorporar contributos de áreas diferentes como a arquitetura, das belas-artes e das ciências. Estas diferentes áreas estão explorando as novas possibilidades do digital para o integrar na sua prática. Tendo estas áreas diferentes especificidades, encontram diferentes soluções de como incorporar o digital, o que torna fundamental a partilha de experiências e processos. Ao incluir estas diferentes áreas pretende-se incluir diferentes modos operandi sobre a utilização do digital redefinido os processos de pesquisa em projeto. Relativamente ao método tradicional este tipo de ferramentas e processos permite intervir em todas as fases de projeto numa sequência assincrónica ao contrário de alguns métodos anteriores que devido à dificuldade do próprio médium favoreciam um projeto sequencial e unidirecional (veja-se Duarte/Celani e Oxman)
Esta iniciativa é destinada a participantes com menor experiência nos processos digitais de projeto. Como tal é necessário introduzir o ensino de projeto assistido por computador, desenho associativo e paramétrico, fabricação digital e de novas mídias como o Arduino. O arduíno tem permitido aos alunos e às universidades o acesso a mecanismos responsivos de maneira acessível, que lhes permite antever possibilidades de conceber mecanismo que tornem os abrigos em estruturas responsivas em tempo real. A instrumentalização destes processos incluiu a modelação digital com o Rhinoceros, a iniciação na programação visual utilizando o aplicativo Grasshopper, incluindo diversos plug-ins para a geração de múltiplas alternativas de projeto. É explicada a vantagem da integração digital destes programas com a manufatura assistida por computador com a capacitação em corte a laser, capacitação em impressão 3d, capacitação em técnicas de marcenaria serralharia e montagem de produto. Também é feita a capacitação em robótica responsiva via arduíno. Ou seja o projeto é encarado dentro de um contínuo digital, que também influencia o próprio projeto e a sequência de operações utilizada. No momento em que uma linha no desenho deixa de ser apenas uma representação, mas passa a ser também uma linha de corte numa operação posterior o processo integrado adquire um novo sentido.
Contudo o ponto de partida do projeto é de índole conceitual. O exercício sugere determinados mecanismos responsivos primários e pretende-se que num período alargado mas intenso os alunos concebam, fabriquem, montem a solução. Esta solução deve incluir os mecanismos que permitem o movimento, o que só é possível com a fabricação e testando as soluções com modelos físicos. Assim o ensino destas diferentes áreas, promovendo não só a reflexão como a aprendizagem e uso destes novos processos e ferramentas mas definindo um conceito. Assim mais do que um instrumento o processo permite múltiplas propostas, em que a tentativa e erro permitem aperfeiçoar a solução dando ao aluno um aprendizado valioso, com base na prática. Este aprendizado poderá ser utilizado futuramente para o aluno conceber, cortar e manufaturar os seus próprios projetos. Utilizando apenas métodos analógicos, quem concebe, produz e constrói o projeto raramente é a mesma pessoa, dificuldade que pode ser ultrapassada com recurso à integração digital (Branko Kolarevic)
RESULTADOS
De maneira genérica os alunos foram instrumentalizados nas técnicas de desenho paramétrico e fabricação digital, sendo capacitados também no corte a laser e impressão 3d. Inicialmente foram propostos 5 mecanismos responsivos primários (cortina; polvo; concha; lanterna chinesa e flor brinco de princesa), a partir dos quais forma desenvolvidos 5 projetos responsivos. O resultado incorporou o aprendizado e a tentativa e erro do WS para conseguir resultados que superaram a dicotomia forma - instrumentalização. O rigor do discurso cobrado durante as apresentações diárias do projeto superou o encanto apelativo apenas da técnica e dos instrumentos.
DISCUSSÃO
A discussão acima leva nos ao entendimento que por si só as disciplinas de instrumentalização e os novos processos não nos levam de maneira autónoma a mudanças significativas dentro do projeto. Neste sentido todo o Workshop girou em torno da necessidade de encontrar uma narrativa própria, que não seja literal e que tenha a solidez suficiente para efetivar/legitimar esta iminente mudança de paradigma.
Os resultados interessantes acima descritos, por si só, não introduzam mudanças suficientes para justificar uma mudança de paradigma. No entanto a solidez da proposta consegue ultrapassar mais um “passar a limpo” que não traria grandes consequências além de jogos formais hedonistas.
Neste sentido os resultados são não só o questionamento do processo tradicional com a aprendizagem de novas ferramentas, mas também de novos processos, acedendo a novas áreas do conhecimento. Este aprendizado combate o conhecimento especializado e fracionado, sendo testadas soluções na prática através da sua construção integrando processos digitais e analógicos, num processo continuo.
Keywords
References
DUARTE, José Pinto, CELANI, Gabriela, PUPO, Regiane, “Inserting computational technologies in architectural curricula”, em Gu, Ning and Wang, Xiangyu (ed.), Computational Design Methods and Technologies: Applications in CAD, CAM and CAE Education, Hershey, PA: IGI Global, 2011.
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FOTOS – Quais fontes foram ou serão consultadas?
Foto 1 www.rodarseguro.com.br/automovel/ em 02-05-2015
Foto 2 www.pinstripe.com.br/paginas/pinstriping_no_mundo.html em 02-05-2015