XIX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, 

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Arquitetura, Design e Visualização da Informação”: as diferentes fases dos dados (informação) entre a percepção e o esclarecimento.
José Neto de Faria

Last modified: 2015-08-27

Abstract


Introdução:

A visão historicizada, circunscrita a um determinado contexto histórico, do “Design da Informação” e da “Visualização da Informação” tem o mérito de descrever o estado das técnicas de espacialização de dados (informação), mas como catálogo de boas práticas sedimentadas através do tempo, não consegue induzir o desenvolvimento de pesquisas que foquem a compreensão do funcionamento dos artefatos visuais (objetos técnicos) enquanto depositórios de “sentidos imanentes”. As estruturas dos modos de pensar são abandonadas, juntamente com a reflexão sobre como tais processos de representação e de apresentação visual dos dados (informação) podem ser capazes de promover o ato perceptivo e ao mesmo tempo o esclarecimento. O foco no produzido e não no indivíduo que o “produz”, o “experimenta” e o “interpreta”, evidência a crença ou a aposta num objeto técnico desumanizado e estetizado, que só existe em si mesmo, visto que a relação do homem com o objeto técnico, o outro, desaparece na aparência das garbosas metáforas visuais de sucesso, as quais não deveriam ser um fim em si mesmas, mas um meio de gerar autoreconhecimento para a revelação do próprio ser.

Deste modo, como a contemplação dos objetos técnicos não pode revelar os processos inscritos no indivíduo, o presente trabalho busca reconhecer, nas relações existentes entre o indivíduo (ser) e os dados (informação), o espaço de atuação da “Arquitetura da Informação”, do “Design da Informação” e da “Visualização de Informação”. A inversão do ponto de observação, tem como objetivo deixar de examinar o que se vê no objeto técnico, com o intuito de que se passe a observar o que o objeto técnico induz ou produz no indivíduo, a fim de que se identifique e se descreva a partir do indivíduo as nuâncias das estruturas capazes de promover a percepção e o esclarecimento. O foco deixa de ser a simples análise do representado e do apresentado no objeto técnico, descrição dos resultados estéticos, para ser a análise dos efeitos dos dados (informação) organizados, motivadores das relações de agenciamento presentes nos atos de interpretação, de formulação de discurso e de ação dos indivíduos.

Metodologia:

Inicialmente, para garantir a sustentação da abordagem foi indispensável a realização de uma revisão bibliográfica que ao mesmo tempo contemplasse dois grupos distintos de publicações, classificados da seguinte maneira: os teóricos da arquitetura, design e visualização da informação, conjunto de publicações tradicionais e contemporâneas sobre a história, as técnicas e os modos de representação visual da informação; e os teóricos da fenomenologia, da percepção e da filosofia da técnica, conjunto de trabalhos de Maurice Merleau-Ponty, Bruno Latour e Gilbert Simondon. Assim, o trabalho foi desenvolvido em sete etapas de pesquisa: a análise e síntese das principais abordagens defendidas pelos autores em “Arquitetura da Informação”, “Design da Informação” e “Visualização de Informação”; a análise e síntese das principais ideias que fundamentam a abordagem fenomenológica, a descrição dos processos de percepção, interpretação e ação, e a descrição dos processos de assimilação da técnica; a seleção de um conjunto de objetos técnicos de representação visual da informação; a elaboração da ferramenta de análise da leitura, interpretação e discurso sobre o objeto técnico; a exposição do conjunto de objetos técnicos aos grupos de indivíduos; a descrição da relação dos indivíduos com os tipos de dados (informação); a análise, a reflexão e a discussão sobre os resultados; e por fim, a descrição dos resultados de pesquisa obtidos.

Resultados:

Ao abordar o indivíduo nas relações de produtor (programador), de experimentador e de interpretador (ator propenso a ação) dos dados (informação) e dos valores dos dados (informação), uma das primeiras coisas que se percebe, já apontado na Ciência da Informação, é que os dados (informação) ganham valores diferentes para quem articula como produtor, quanto para quem articula como interpretador e como narrador. Os dados (informação) revelam as suas nuâncias, apresentam-se em condições que caracterizam os estados de “pré-informação” (o dado enquanto signo, sensação e sentido percebido), de “informação” (a informação enquanto dados processados que geram os significados e o conhecimento, discernimento de uma determinada rede de significados) até a de “pós-informação” (a “dita sabedoria”, derivada do domínio sobre os discernidos e da habilidade de articulação gerada que possibilitam a ação).

No encadeamento dos dados, o “indivíduo produtor” de representações visuais tenta montar processos de “Espacialização dos dados” que facilitem a compreensão a geração de conhecimentos, neste processo tenta recuperar parte das memórias culturais e dos processos fisiológicos, psíquicos e cognitivos executados pelo “indivíduo interpretador”. Assim, aplica um conjunto de princípios e técnicas aprendidas em três disciplinas: com a “Arquitetura da Informação” buscam estruturar e rotular ou etiquetar (tags) os dados, acrescentar camadas extras de informação necessária a conjunção, categorizar e organizar o armazenamento, o resgate, o processamento e o fluxo de espacialização dos dados; com o “Design da Informação” buscam transformar os dados em metáforas abstratas e/ou análogas de apresentação visual da informação, ou seja, traduzir um determinado conjunto de dados em conjuntos de elementos visuais articulados, os quais espacializados possam facilitar a geração de informação ou conhecimento; e com a “Visualização de Informação” buscam modos e processos de assistência e de ensaio da apresentação da informação capazes de estimular a geração de conhecimento e de sabedorias, os quais promovam a tomada de decisões ou de ações.

O “indivíduo interpretador” diante da apresentação das “Espacializações das Informações” concentra seus esforços em concatenar (sentir e perceber os dados), criticar (processar criticamente a informação) e promover ações (atuar sobre o mundo), fundamentados em suas interpretações.

Assim, o estágio da “Concatenação” caracteriza o processo de captação de dados (informação) os quais são conformados, conectados e/ou agregados a variantes ou condicionantes advindas: das circunstâncias momentâneas próprias do meio; do corpo biológico específico de cada indivíduo; dos estados afetivos-emocionais do indivíduo; das variações no processamento fisiológico e cognitivo das informações; dos hábitos pessoais e socioculturais inscritos no indivíduo; das memórias resgatadas; e das traduções entre distintos sistemas sígnicos. A percepção não pode ser caracterizada puramente como o instante ou o momento de captação de um conjunto de informações, exatamente porque enquanto processo complexo, está subordinada a um conjunto de níveis perceptivos que devem ser integrados.

O estágio da “Crítica” caracteriza o processo de reflexão, ponderação e síntese que são realizadas num processo de distanciamento do fenômeno, através de um conjunto de operações as quais permitem a “construção” de uma ideia geral, ponto “sólido” ou rede cristalizada momentaneamente de informações, processo fruto de um certo tipo de julgamento ou seleção, no qual promove a redução e/ou ampliação dos elementos originalmente analisados. O ato permite a consolidação momentânea de pareceres que apagam as nuâncias, ou excessos de informação, não úteis para a determinação de uma síntese.

E o estágio da “ação” caracteriza os processos de exteriorização ou exposição, como o ato das operações narrativas, que podem propiciar um modo de observação, análise e ponderação capaz de apontar o tipo de resultado obtido num determinado processo de visualização dinâmica de informações. E deste modo, possibilitar a compreensão dos resultados obtidos numa exposição, o domínio obtido de um determinado conteúdo, a ação da imaginação promovida pelo modelo de visualização, a capacidade promovida de articulação e compreensão da informação; a revelação de conjuntos de relações anteriormente não percebidas entre as informações visualizadas; e por fim, a revelação da geração de novos saberes.

Assim, depois de serem selecionados 5 projetos de visualização da informação (objetos técnicos), foram realizadas as exposições e os testes com 25 indivíduos (alunos), em cada grupo formado por 5 indivíduos foi exposto 1 objeto técnico, cada indivíduo após a exposição era convidado a explicar os significados do que haviam visto, e em seguida, convidados a interpretar as relações, as causas e as consequências sobre o que tinham compreendido com o objeto técnico.

Os modelos de visualização da informação foram então submetidos a classificação: em função do grau de clareza com que cada indivíduo conseguiu descrever as informações contidas, o que caracteriza a objetividade na representação da informação; em função do grau de abertura positiva e negativa manifesta nas interpretações, o que caracteriza a capacidade imaginativa promovida pelas conotações devidas e pelas conotações indevidas; em função do grau de relacionamento gerado entre as distintas informações, o que caracteriza a capacidade das representações de revelar relações indiretas; e finalmente, em função do grau de esclarecimento, o que caracteriza a assimilação o modelo e a capacidade de proposição de modos que qualifiquem a representação do conjunto de informações.

Discussão:

O estudo tenta contribuir para a elaboração de ferramentas que ajudem a mensurar como as formas de representação e de apresentação da informação podem, ao mesmo tempo, promover um determinado grau de eficiência na transmissão da informação e um grau de abertura que instigue um raciocínio dialético a fim de fomentar processos de esclarecimento. Os resultados parciais parecem indicar, apesar dos desvios contidos nas amostras, que as formas de classificação e organização das informações indicadas nas bibliografias consultadas, não condizem ou explicam como a informação é ou pode ser assimilada nos processos de visualização da informação, somente caracterizam estilos de organização visual da informação. Talvez, o estudo do “Ato Narrativo” possa fundamentar essa integração entre processos perceptivos, fisiológicos, psíquicos e cognitivos e as formas de produção da representação e apresentação da informação, de modo a legitimar os objetos técnicos como instrumentos de esclarecimento.


Keywords


Design; dados e informação; arquitetura da informação; design da informação; visualização de dados.

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